Mais do que agenda diária, a vida do casal de empresários Elisiane Toldo, 41 anos, e Maique Pierre da Silva, 39, de Porto Alegre, sofreu alterações significativas em um ano. Se no começo do distanciamento social, os dois acreditavam que a situação da pandemia se resolveria em poucos meses, agora já não criam mais expectativas.
Antes da pandemia, os dois trabalhavam, de segunda a sexta-feira, das 8h até as 17h. Neste período, os filhos, Benício, quatro anos, e Leonardo, oito, ficavam na escola ou sob os cuidados de uma funcionária, em casa. Nos finais de semana, a família sempre tinha uma programação especial. Tudo mudou a partir de março, com os dois trabalhando em casa, cuidando dos filhos e os auxiliando nas tarefas escolares. Além disso, surgiu a apreensão com a questão econômica.
Mesmo considerando-se uma pessoa calma e compreensiva, Elisiane percebeu que, a partir da pandemia, teve momentos constantes de irritabilidade e viu mais pessoas com sinais de depressão. Por isso, há nove meses, decidiu fazer terapia uma vez por semana.
— Nós, como um todo, estamos nos sentindo mais deprimidos. Não sou de me deixar abalar e gosto de construir um campo bom de energia, mas é difícil quando todo o entorno diz o contrário. É preciso ser mais forte e, às vezes, não consigo. Acabo brigando com o filho ou agindo de uma forma mais ríspida — reconhece.
Para Elisiane, a terapia tem lhe ajudado a passar por este período e poderia fazer a diferença para outras pessoas:
— Um terapeuta neste momento é muito bom, pena que nem todos têm acesso. É um direito que a maioria da população não tem. Ajuda tanto em vários aspectos, como ansiedade e controle da rotina.
Maique também reconhece ter tornado uma pessoa ansiosa. Por isso, faz acompanhamento com psiquiatra.
— No início da pandemia, achei que ia passar mais rápido, mas isso não ocorreu. Somos pequenos empresários e temos funcionários, que dependem de salário. Tenho a família, que depende deste negócio. E ficamos muito no fio da navalha, com muito medo. A demanda de trabalho caiu horrores. Foi preciso buscar ajuda especializada para controlar a ansiedade — conta.
Com os números da pandemia caindo, o casal voltou a trabalhar de forma presencial no turno da manhã. À tarde, porém, Elisiane atua de casa para poder ajudar os filhos nas tarefas da escola.
Em outubro, o casal e os filhos Benício, quatro, e Leonardo, oito anos, contraíram covid-19 e se recuperaram em casa. Alguns com mais sintomas do que os outros.
No mês seguinte, os filhos voltaram à escola de forma presencial. E Elisiane e Maique chegaram a considerar que, aos poucos, a vida voltaria aos trilhos de antes de março de 2020. Fizeram até uma viagem de férias, para um local isolado, onde puderam recarregar as energias. As crianças não participaram das atividades de verão na escola e se preparavam para voltar às aulas em fevereiro.
Mas o aumento do número de casos de covid-19 no Estado e no Brasil, e o consequente fechamento das instituições de educação, levou, principalmente, Leonardo ao desespero.
— Ele chora porque quer voltar à escola. Neste ano, foi apenas um dia e as aulas presenciais acabaram suspensas. Benício ainda estudou mais algumas semanas, o que gerou um desconforto entre os irmãos. Leonardo não entendia porque o irmão podia e ele não. É muito difícil tirar o direito da criança de ir à escola — comenta Elisiane.
Maique lembra que a família está agora num momento que a covid-19 atingiu outros familiares, alguns estão na UTI.
— Estamos encarando este momento com muito comprometimento e preocupação porque doença não é brincadeira. Ficamos preocupados até quando isso vai continuar. Nos preocupamos com o todo: como ficarão as pessoas que ainda não têm vacina? Como ficarão os que estão internados? No pós-pandemia, espero pessoas mais humanas e menos egoístas — finaliza o empresário.