A batalha contra o coronavírus pode ganhar mais um aliado. Batizado de ABX464, o medicamento francês recebeu a autorização de órgão sanitários da França, Alemanha, Reino Unidos e Itália para entrar na fase 3 de estudo. O mesmo aval de prosseguimento aos estudos foi dado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A substância – que ainda está em testes e em busca de voluntários – terá sua eficácia avaliada nesta etapa. A esperança dos pesquisadores é de que esse fármaco combata os sintomas graves da covid-19, diminua os riscos de internação e que contribua para o desafogamento do sistema de saúde.
Sintetizado pela empresa de biotecnologia Abivax, a substância é estudada para o tratamento de doenças crônicas inflamatórias e também foi analisada em participantes com HIV. Durante esses ensaios, o fármaco apresentou três efeitos positivos, que são desejáveis para tratar os positivados para covid-19, são eles: o efeito antiviral, o anti-inflamatório e reparador de tecidos. Agora, os pesquisadores querem verificar se essa eficácia se aplica a seres humanos com coronavírus, diz Jorge Kalil, professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e coordenador do estudo no Brasil.
— Tivemos bons resultados nas fases 1 e 2. Agora, queremos saber se, com o efeito anti-inflamatório, conseguiremos frear a produção de citocinas inflamatórias, que se torna tão intensa em pacientes com covid, que leva ao desconforto e comprometimento pulmonar. Avaliar se conseguiremos impedir a replicação do coronavírus dentro do organismo e a terceira ação que analisaremos neste fármaco é o seu poder de reparação dos tecidos que sofreram algum tipo de ataque – explica.
Medicamento é testado pelo HCPA
O medicamento está sendo testado na Europa e América Latina. Até o momento, 440 pessoas se voluntariaram ao estudo, sendo que 320 são do Brasil. Contudo, a meta é chegar aos 1.034 de participantes, afirma Kalil. O coordenador da pesquisa diz que pretende contar, ao todo, com 800 voluntários brasileiros. Para isso, ele trabalha com 14 centros de pesquisa do país, entre eles o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), que faz parte da iniciativa desde dezembro passado.
Luciano Goldani, coordenador do ensaio clínico com o ABX464 no HCPA e professor de Infectologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), reforça que é importante ter um número considerável de voluntários para que a robustez do estudo seja maior. Ele ressalta ainda a relevância deste fármaco na luta contra o coronavírus:
— A vacina é a maior arma para o controle e erradicação da pandemia, mas isso não quer dizer que uma medicação não seja necessária. Isso porque, mesmo com a vacinação, ainda teremos pessoas doentes, ainda mais no Brasil, onde a imunização anda a passos lentos. Precisamos de um tratamento para quem ainda não for vacinado. E essa medicação que estamos testando pode ajudar a evitar que a doença progrida para as formas graves. É um remédio que vem para somar esforços no combate à covid, estamos esperançosos.
Veja como participar do ensaio clínico
Poderão participar do ensaio clínico pessoas com idade a partir dos 65 anos ou mais, desde que tenha diagnóstico comprovado de covid-19 por exame PCR. E indivíduos com 18 anos ou mais que apresentem, pelo menos, um destes fatores de risco: diabetes, obesidade ou hipertensão e diagnóstico comprovado de covid-19 por meio do exame PCR.
Os participantes não hospitalizados tomarão uma cápsula de ABX464 por via oral, uma vez ao dia, por 28 dias, em casa. Durante o período obrigatório de quarentena de 14 dias, os participantes receberão o tratamento e serão monitorados por telefone. A partir da terceira semana de tratamento, ou a partir da data em que o participante for liberado da quarentena pelo seu médico, os participantes deverão comparecer ao hospital, uma vez por semana, para monitoramento.
Os interessados podem entrar em contato pelo telefone (51) 3359.8753, WhatsApp (51) 980325900 ou pelo e-mail: ccapp@hcpa.edu.br