Um estudo brasileiro que avaliará os impactos a longo prazo e a qualidade de vida de pacientes que tiveram covid-19 está sendo coordenado pela Coalizão Covid-19 Brasil, que reúne nove entidades e hospitais, entre eles, o Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre. Pelo menos, 1,2 mil pacientes de todo o país fazem parte da pesquisa. Os primeiros deles, desde março de 2020.
Segundo o médico intensivista e pesquisador do Hospital Moinhos de Vento Regis Goulart Rosa, representante da Coalizão Covid-19 Brasil, o estudo acompanha pacientes que estiveram hospitalizados com quadros moderados (internados em enfermarias) e graves (que passaram por UTI). São homens e mulheres com idade acima de 18 anos. Mas a média é de 52 anos, e 60% dos que estão sendo acompanhados são homens.
Cada paciente terá sua situação de saúde monitorada por um ano, e o contato inicial é presencial, ainda durante a hospitalização. Quem recebe alta hospitalar permanece sendo acompanhado a distância, por meio de entrevistas telefônicas realizadas a cada três meses, a contar da data de inclusão no estudo.
— Os pacientes que sobreviveram ao coronavírus, que tiveram um quadro de infecção, podem apresentar sequelas físicas, cognitivas e de saúde mental. Entre as sequelas físicas que eles podem apresentar incluem-se fraqueza muscular, fadiga e redução da capacidade física do paciente. Em relação à saúde mental, pode desenvolver estresse pós-traumático, ansiedade e depressão. Em relação à cognição, eles podem apresentar distúrbios de memória e de velocidade de execução — explicou Rosa, em entrevista ao programa Atualidade, da rádio Gaúcha, nesta quarta-feira (10).
No Rio Grande do Sul, há pacientes participantes que estão ou estiveram internados em diferentes instituições, entre eles Hospital Moinhos de Vento, Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Hospital Tachinni (Bento Gonçalves), Hospital Bruno Born (Lajeado), São Vicente de Paulo (Passo Fundo) e Geral (Caxias do Sul).
Apesar de a pesquisa ainda estar em andamento, ela foi uma das cinco apresentadas durante simpósio dedicado exclusivamente à Síndrome Pós-Covid, ou Long Covid, realizado de forma virtual pela Organização Mundial da Saúde (OMS), na terça-feira (9). O objetivo do encontro foi ampliar os conhecimentos, alinhar métodos de estudos e planejar estratégias globais de atendimento. Rosa, que participou do simpósio, destacou que uma das preocupações dos profissionais de saúde em todo mundo é com uma uma pandemia de incapacidade:
— Os sistemas de saúde precisam se preparar para tratar sequelas e reabilitar esses pacientes. Temos observado desde problemas respiratórios, cardiológicos, neurológicos, fraqueza muscular, até estresse pós-traumático, ansiedade e depressão. A OMS quer organizar o que se tem de pesquisas e dados disponíveis para entender melhor esses quadros clínicos e definir estratégias para prevenir e tratar a Long Covid.
Busca por terapias
A Coalização VII, como é identificada a pesquisa do grupo de especialistas brasileiros, foi a única representante do Brasil no simpósio. Ela é uma das nove desenvolvidas atualmente pela aliança formada por Hospital Israelita Albert Einstein, HCor, Hospital Sírio-Libanês, Hospital Moinhos de Vento, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Beneficência Portuguesa de São Paulo, Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet).
Os estudos estão avaliando a eficácia e a segurança de potenciais terapias para pacientes com covid-19 no Brasil. Em entrevista ao programa Atualidade, da rádio Gaúcha, o médico do Moinhos de Vento explicou que existem dois grandes grupos de pacientes que tiveram covid-19 e que podem apresentar sequelas. O primeiro reúne aqueles que necessitaram de hospitalização, principalmente os que foram internados em UTIs, apresentaram pneumonia grave e necessitaram de ventilação mecânica. São pacientes que apresentam uma grande ocorrência de incapacidades física, cognitiva e mental, capazes de impactar na qualidade de vida.
O segundo grupo é formado por pacientes que não necessariamente precisaram ser hospitalizados, mas que podem apresentar sequelas, como fadiga prolongada, dificuldade de sono, fraqueza muscular e sintomas de ansiedade. De acordo com Rosa, estima-se que 10% do grupo dos pacientes que tiveram a doença em quadro mais leve podem apresentar sintomas persistentes e que só diminuirão com o passar do tempo.
Conforme Rosa, a meta da Coalizão Covid-19 Brasil é divulgar nos próximos meses os resultados preliminares da pesquisa.