As duas novas mutações do coronavírus, anunciadas pelo Reino Unido, e a outra nova linhagem do Sars-Cov-2 em amostras de pacientes no Rio de Janeiro, divulgada por cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Laboratório Nacional de Ciência da Computação (LNCC), são consideradas descobertas comuns pelos que atuam na área.
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, o virologista Fernando Spilki, no Brasil, até o momento, há em torno de 20 linhagens do coronavírus circulando. O especialista relata que os vírus, especialmente os de RNA (do qual faz parte o coronavírus), sofrem grau elevado de mutação. E os coronavírus comparados a outros vírus de RNA, têm um potencial baixo de mutações.
— Mesmo assim, à medida que um vírus vai se espalhando na comunidade, especialmente se não há medidas de controle restritivas, permite-se que sejam selecionadas novas linhagens, ou cepas gerais, e este processo se dá em coronavírus, normalmente, por estas mutações que estão sendo encontradas agora — explica Spilki, que também é coordenador da Rede Corona-ômica, do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI), e professor da Universidade Feevale.
Spilki relata que uma variante não necessariamente pode ser considerada pior do que o vírus do qual ela surgiu. O normal é determinadas linhagens evoluírem para uma transmissibilidade maior, por exemplo. Isso, para o vírus, seria uma vantagem evolutiva.
Conforme o médico infectologista da Santa Casa de Porto Alegre Claudio Stadnik, por seleção natural, grande parte das variantes acaba morrendo e não se dissemina. O diferencial destas novas mutações, aponta, é que conseguiram se espalhar e deixaram o vírus mais eficaz, mais transmissível.
— Mas ainda não se sabe se deixa ele mais agressivo, se causa mais mortes, por exemplo, que são perguntas importantes a serem respondidas — destaca Stadnik.
Fernando Spilki complementa dizendo que é preciso ter em mente que não, necessariamente, a mutação está induzindo a nova onda da doença. Mas que, sim, uma nova onda pode ser provocada por descontrole das medidas de restrição e de aglomeração de pessoas. Se a nova onda não for evitada, a partir dos cuidados com os protocolos, alerta o virologista, ocorrerá que dentro dela será facilitado o surgimento de uma nova variante do vírus.
Ele ressalta que o número crescente de reinfecções ocorre em virtude do tempo decorrido das primeiras infecções daqueles que tiveram covid-19 mais branda e, consequentemente, imunidade mais baixa. Spilki comenta que, neste momento, algumas dezenas de casos estão em estudo no Brasil e que o número de reinfecções deverá ser mais numeroso em 2021.