
A mutação do coronavírus divulgada neste sábado (19) pelo governo do Reino Unido deve ser monitorada por cientistas, mas não é, até o momento, motivo para pânico, de acordo com especialistas ouvidos por GZH. A nova variante da doença, no entanto, reforça ainda mais a necessidade de a população manter os cuidados com higiene e distanciamento social.
No comunicado, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, confirmou que uma nova variante do coronavírus identificada pelas autoridades de saúde britânicas se espalha mais rapidamente do que as anteriores, podendo ser até 70% mais transmissível do que a primeira variante.
Doutor em Epidemiologia e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Paulo Petry explica que os vírus são compostos por várias proteínas que podem sofrer variações, mas dificilmente mudam completamente. As alterações não necessariamente deixam o vírus mais agressivo ou letal, por exemplo.
— É importante ressaltar que o vírus que chegou ao Brasil, lá no fim de fevereiro, não é o mesmo que estava na Europa. Ele também chegou com mutações aqui. Em relação a nova mutação divulgada, é claro que não é uma notícia boa, principalmente levando em conta a informação de que ela pode deixar o vírus até 70% mais transmissível do que o antigo, mas não é motivo de pânico, nesse momento, porque ainda há muitos questões a serem respondidas — explicou.
De acordo com o médico infectologista da Santa Casa de Porto Alegre Claudio Stadnik, mutações em vírus são comuns e esperadas. Em relação a covid-19, há notícias de que existam mais de 4 mil mutações do vírus no mundo, sendo que a maioria delas não deixou a doença mais agressiva, afirma. Por seleção natural, grande parte das variantes acaba morrendo e não se dissemina:
— O que essa mutação tem de diferente é que conseguiu se espalhar, ou seja deixa o vírus mais eficaz, mais transmissível. Mas ainda não se sabe se deixa ele mais agressivo, se causa mais mortes, por exemplo, que são perguntas importantes a serem respondidas.
Segundo Stadnik, as mutações estão entre os principais fatores que causam novas ondas da doença e também contribuem para o surgimento de casos de reinfecção.
O governo do Reino Unido afirmou ainda que não há indicação de que as vacinas para covid-19 seriam menos eficazes contra a nova variante do vírus.
— Claro que as vacinas já são feitas para não perderem eficácia diante de pequenas mutações, e as empresas de vacinas podem trabalhar nesses ajustes, mas ainda não é possível dizer se é o caso dessa mutação anunciada — ressaltou Stadnik.
Diante da notícia, os especialistas ressaltam que o melhor caminho, indiferente de anúncio de mutações ou não, é reforçar cuidados no combate a doença, como manter os protocolos de higiene, de distanciamento e ficar em casa sempre que possível.
Na divulgação sobre a nova variante, Boris Johnson também anunciou novas restrições à circulação de pessoas em Londres e no sudeste do país, regiões onde a pandemia de covid-19 tem se agravado. De acordo com o premiê, as novas medidas são equivalentes ao lockdown imposto em novembro e durarão duas semanas. O governo britânico reavaliará a situação em 30 de dezembro.