O reflorestador João Celso Zilio, 63 anos, era o típico boa praça, brincalhão e de bem com a vida, na descrição de amigos e familiares. Acolhia quem chegasse em sua casa em Guaíba, na Região Metropolitana, com um cafezinho quente e alguma história para contar. Duas metas, porém, não conseguiu concretizar. A primeira, ainda da juventude, era cursar Medicina Veterinária (ele se formou Técnico Agrícola, no Ensino Médio). Teve de interromper o estudo para trabalhar e ajudar os pais.
O outro sonho, que já estava planejado, era visitar a Europa e conhecer a Itália (terra de seus antepassados) e a Espanha (dos familiares de sua mulher, Sílvia), possivelmente em 2021. Não conseguiu. Foi vitimado pela covid-19 e morreu em 14 de maio, após 18 dias internado no Hospital Ernesto Dornelles, em Porto Alegre.
Zílio, natural de Lagoa Vermelha (nordeste do RS), mudou-se para Guaíba para trabalhar na maior fábrica de celulose do Rio Grande do Sul, quando ela ainda se chamava Riocell.
Fã da vida ao ar livre, atuou em reflorestamento e corte de árvores usadas como matéria-prima para o papel. Sempre plantava para compensar e foi assim que semeou um pé de jabuticaba na frente de casa, quando chegou no município. A árvore até hoje está lá, 40 anos depois, mesmo tempo do longevo casamento com Sílvia.
Sílvia diz que todos os dias despertava com a frase “Bom dia, coração!”, e com café na cama, preparado por Zílio.
— Era todo amor e dedicação, principalmente com os netos, Isabel e Miguel, as paixões da vida dele — descreve.
Foi em Guaíba que os filhos Maurício e Marina foram criados, numa atmosfera de irreverência e muito convívio ao ar livre. As festas eram uma constante. Os netos dormiam uma vez por semana na casa dos avós.
Zílio sofreu dois baques recentes. O primeiro foi há 12 anos, quando descobriu um linfoma. Fez tratamento, ficou bem, mas a doença reapareceu meses atrás, quando ele já estava aposentado e foi diagnosticado com câncer em um dos pulmões. Recomeçou a luta pela vida, com medicação.
A vida não é nada parecida de quando o João estava aqui, mas seguimos com o legado que ele nos deixou: honestidade e amor ao próximo
SÍLVIA ZÍLIO
Viúva
Na nova batalha contra o câncer, cuidadoso, Zílio deixou seus documentos e a parte financeira da família organizada, como precaução. Inclusive fez um pedido ao médico de Silvia (ela tem uma doença autoimune) para que cuidasse dela, caso algo acontece com ele.
Sílvia acredita que Zílio honrou o que diz o ditado: plantou uma árvore – na realidade, várias -, teve filhos e “escreveu um livro no coração de cada um que teve o privilégio de ter a presença dele!”.
— A vida não é nada parecida de quando o João estava aqui, mas seguimos com o legado que ele nos deixou: honestidade e amor ao próximo — conclui Sílvia.