Seis meses e meio após o coronavírus deixar sua primeira vítima no Rio Grande do Sul, o Estado ultrapassou nesta quarta-feira (7) a marca de 5 mil mortes provocadas pela pandemia que varreu o mundo em 2020. No começo da tarde, a contabilidade oficial chegou a 5.035 vidas perdidas para a covid-19.
Até 24 de março, quando foi divulgado o primeiro óbito ocorrido na Capital, a face mais trágica do novo vírus era conhecida pelos gaúchos apenas por notícias vindas de outros países e lugares do Brasil. Hoje, é uma triste realidade para uma quantidade expressiva de familiares, amigos e colegas de quem não conseguiu vencer a batalha contra a nova doença.
Para se ter dimensão do que esse número representa: é uma cifra superior à população de 46% das cidades gaúchas, isoladamente, ou pouco mais do que o triplo de todas as 1.591 mortes ocorridas em ruas e estradas gaúchas no ano passado.
Desde o registro do primeiro óbito, em média 25 pessoas morreram diariamente no Estado em razão da pandemia. Para o epidemiologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Petry, por trás dessa cifra há tragédias pessoais impossíveis de serem mensuradas em números.
— Cada vida perdida representa uma dor, um trauma — afirma o especialista.
Mas o epidemiologista afirma que, pelo menos, a sociedade gaúcha conseguiu evitar um impacto que poderia ser ainda maior diante da gravidade do cenário nacional e da ferocidade do novo vírus. Quando se compara a taxa de óbitos ajustada à população com a de outros Estados, o Rio Grande aparece na quarta melhor colocação do país com 44,3 vítimas por 100 mil habitantes.
Essa taxa aproxima os gaúchos do cenário em países como a França, que apresenta uma taxa de 48 por cem mil, ou da Argentina, com 49 por cem mil. O país em situação mais grave (considerados apenas aqueles com mais de um milhão de habitantes) é o Peru, onde esse índice chega a 102, conforme dados compilados pela universidade americana Johns Hopkins.
No Brasil, apenas Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais aparecem em situação mais favorável que a do Rio Grande do Sul. Não alivia o impacto de milhares de mortes, mas serve para reforçar a importância de tomar ações adequadas contra a proliferação do vírus, conforme o Petry:
— Conseguimos ficar em uma situação comparativamente um pouco melhor porque fechamos (a economia, reduzindo a circulação de pessoas) cedo, dando tempo para a rede de atendimento se preparar, e graças à qualidade dos nossos profissionais de saúde.
Desde o começo da pandemia, o Estado mais do que dobrou o número inicial de 933 leitos em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) disponíveis para adultos via SUS. A garantia de atendimento ajuda a controlar o impacto da covid-19 — quando se esgota a capacidade hospitalar para receber casos graves, o risco de morte aumenta em até 10 vezes.
A média nacional de mortalidade, até o começo da tarde desta quarta-feira, estava em 70,2 vítimas por 100 mil habitantes. A região com pior desempenho era o Distrito Federal, com um índice de 111,6 mortos por 100 mil em razão da pandemia. O Estado em melhor situação, segundo o Ministério da Saúde, era Minas Gerais. Os mineiros registravam um índice de 36,4 até aquele momento.
A contabilidade dos óbitos também sugere uma lenta redução no ritmo da pandemia nos meses mais recentes. O Estado levou 19 dias para saltar de 2 mil para 3 mil mortos por covid em meados de agosto (veja tabela abaixo), e 21 dias para perder outras mil vidas até o começo de setembro. Agora, esse mesmo número levou 29 dias para ser acrescentado. Mas, infelizmente, a data chegou.
Faixa etária acima de 80 anos é a mais atingida
A conta das mais de 5 mil vítimas do coronavírus no Rio Grande do Sul foi atingida à custa principalmente da vida de homens idosos. O sexo masculino responde por 56% dos óbitos, e a faixa etária acima de 80 anos de idade apresenta o mais alto percentual entre todas, com 29% dos registros — a população entre 70 e 79 anos aparece logo em seguida, com 28%.
Levados em consideração todos os idosos (com pelo menos 60 anos), oito em cada 10 mortos pelo coronavírus no Estado se encaixam nessa condição. Embora os mais velhos sejam o principal alvo da forma mais grave da doença, é importante ressaltar que os gaúchos mais jovens não se encontram completamente a salvo da pandemia.
As vítimas entre 50 a 59 anos somam 11%, e um entre cada 10 mortos contava menos de 50 anos. A grande maioria dos óbitos envolveu ainda portadores de outras doenças associadas, como complicações cardíacas ou diabetes. Praticamente nove de cada 10 pessoas que morreram com o coronavírus tinham pelo menos uma comorbidade.
Marcos da covid no RS
1ª morte - 24/3
Mil mortes - 10/7 (1.018 óbitos)
108 dias desde a primeira vítima
2 mil mortes - 30/7 (2.012)
20 dias desde as mil vítimas
3 mil mortes - 18/8 (3.022)
19 dias desde as 2 mil vítimas
4 mil mortes - 8/9 (4.040)
21 dias desde as 3 mil vítimas
5 mil mortes - 7/10 (5.000)
29 dias desde as 4 mil vítimas