Após o anúncio da suspensão temporária dos testes da vacina contra a covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com o laboratório AstraZeneca, um sentimento de frustração tomou conta de muitas pessoas — inclusive de um dos voluntários. Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, na manhã desta sexta-feira, o técnico de enfermagem e voluntário da vacina em teste Júlio Barbosa falou sobre a pausa em razão de reação em uma participante da pesquisa e o processo do estudo.
A primeira entrevista do técnico com os pesquisadores ocorreu em 7 de julho. Segundo ele, que trabalha no Hospital Universitário da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), neste momento são esclarecidos todos os possíveis riscos e efeitos colaterais já no primeiro contato e, durante o processo, informam todas as etapas dos testes com muita transparência. Barbosa relata não ter apresentado nenhuma reação adversa grave, mas ressalta que ele não sabe se recebeu as doses da vacina em teste ou placebo — nenhum voluntário é informado sobre isso.
Mesmo assim, a frustração com a pausa foi inevitável:
— Frustrou um pouco tanto os voluntários quanto a população em geral. Eu recebi a informação pela mídia, não veio de Oxford, deles veio dois dias depois, então me assustou, porque a gente não sabia que tipo de reação, quantas pessoas eram, ficamos apreensivos. Fica aquela frustração de “poxa, a vacina tão promissora vai pausar agora e vai atrasar um pouco mais”.
Mas Barbosa também afirmou que todo o processo do estudo é muito bem elaborado e sério. Por isso, se diz tranquilo em seguir como voluntário.
— A empresa divulgou amplamente. Depois, chegou para nós uma notificação (sobre a suspensão), a gente recebe mensagens semanais perguntando como estamos, o que estamos sentindo, é um acompanhamento muito sério — relatou.
Além disso, os voluntários contam com equipes disponíveis 24 horas para atendimento caso ocorra algum evento adverso e, de acordo com o técnico, os participantes podem optar por deixar o estudo a qualquer momento se assim desejarem.
Barbosa ainda falou sobre a expectativa diante das vacinas e defendeu que os estudos não podem sofrer pressão governamental para acelerar o processo, já que muitos já estão avançando em tempo recorde.
— Acredito que até o final do ano a gente tenha notícias positivas — disse.
Nesta quinta-feira (10), a AstraZeneca, empresa parceira da Universidade de Oxford no desenvolvimento da vacina, confirmou que este seria o segundo caso de pausa para investigar as causas de reação adversa em voluntários. Especialistas ressaltam que este é um processo normal dentro das pesquisas de medicamentos e que reitera a segurança dos protocolos. A pausa é feita para investigar a relação da vacina com a reação, que pode inclusive não ser confirmada.