A deficiência de vitamina D pode estar relacionada a maior probabilidade de infecção pelo coronavírus. É o que sugere um estudo feito pela Universidade de Medicina de Chicago, nos Estados Unidos, publicado no periódico JAMA Network.
Para chegar à conclusão, a equipe fez uma pesquisa retrospectiva, no qual analisou 489 pacientes que, um ano antes de testarem positivo para covid-19, apresentavam deficiência da vitamina D. Conforme o artigo, os indivíduos não tratados tiveram quase o dobro de probabilidade de testar positivo para coronavírus na comparação com aqueles que tinham níveis suficientes da substância.
O endocrinologista Mateus Dornelles Severo, vice-presidente da regional gaúcha da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM-RS), explica que, de fato, existe a hipótese de que vitamina D possa diminuir a incidência de doenças virais, especialmente, as do aparelho respiratório das vias aéreas superiores. No entanto, o médico pondera que o trabalho publicado no JAMA tem limitações, como, por exemplo, não abordar o possível impacto da vitamina D na evolução da doença. O próprio texto sinaliza que “a deficiência de vitamina D pode ser uma consequência associada a uma série de condições crônicas de saúde ou fatores comportamentais que, plausivelmente, aumentam o risco de covid-19".
— Na prática clínica, não dosamos a vitamina D em todo mundo, mas em uma população específica que tem maior risco de apresentar níveis baixos. Por coincidência, são pessoas mais frágeis e que ficam em locais mais confinados, onde sabemos que tem chance de acontecer surtos de coronavírus, como vemos em frigoríficos e casas de repouso — diz Severo. — O estudo levanta a hipótese de que a deficiência possa ser fator de risco para se infectar, mas não responde se a reposição, de fato, previne. De qualquer forma, esse trabalho serve para reforçar a necessidade de se avaliar a vitamina D em ensaios clínicos randomizados — acrescenta o vice-presidente da SBEM-RS.
O estudo levanta a hipótese de que a deficiência possa ser fator de risco para se infectar, mas não responde se a reposição, de fato, previne. De qualquer forma, esse trabalho serve para reforçar a necessidade de se avaliar a vitamina D em ensaios clínicos randomizados.
MATEUS DORNELLES SEVERO
vice-presidente da SBEM-RS
O site da Universidade de Chicago destacou: "É importante notar que o estudo apenas descobriu que as duas condições eram frequentemente vistas juntas, não prova causalidade". E acrescentou que os pesquisadores envolvidos planejam ensaios clínicos para verificar a suposição.
— Entender se o tratamento da deficiência de vitamina D altera o risco de COVID-19 pode ser de grande importância local, nacional e global — afirmou, ao site da instituição, o líder do estudo, David Meltzer.
Essa não é a primeira vez que pesquisadores investigam o papel da substância na prevenção da covid-19. Em março, dois professores da Universidade de Turim, na Itália, assinaram um documento no qual sugeriam que a suplementação de vitamina D, quando em níveis baixos, poderia ser uma ferramenta de prevenção ao coronavírus. As evidências apontadas pela dupla foram: o papel ativo que a substância tem na modulação do sistema imunológico, redução no risco de infecções respiratórias de origem viral e capacidade da vitamina D de neutralizar danos nos pulmões causados pela inflamação provocada pela ação do sars-cov-2.
Em maio, um artigo publicado no periódico BMJ Nutrition, Prevention and Health foi enfático ao defender a importância da vitamina D para a saúde global. No entanto, destacou que "não há evidências científicas robustas que mostrem que a ingestão de altas doses de vitamina D vá beneficiar prevenindo ou tratando covid-19".