- Estudo diz que, após pico de internações em 13 de agosto, Capital vive estabilização das UTIs
- Especialistas afirmam que estabilidade está em patamares altos
- Prefeitura trabalha com a hipótese de platô prolongado, em vez de queda em setembro
Um estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), divulgado na terça-feira (25), indica que a demanda de pacientes com coronavírus por Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) em Porto Alegre está estabilizada e deve cair em setembro. A prefeitura, contudo, não espera queda acentuada, e sim um grande platô.
A estabilidade na demanda já era apontada por GaúchaZH, e a pesquisa confirma a tendência. O pico da procura de pacientes com covid-19 por UTIs foi em 13 de agosto, quando 342 pessoas estavam internadas. A partir de então, a lotação se manteve estável entre 310 e 340 casos graves, explica Cristiano Hackmann, professor de Matemática da UFRGS e um dos autores do estudo.
— É uma boa notícia. Não foi como em outros lugares do mundo. Aqui, quem precisou de leito de UTI, teve. Mas as projeções futuras são baseadas no comportamento atual. Se o distanciamento diminuir e não forem tomados os devidos cuidados de higiene, o número de hospitalizados pode voltar a subir. Só a vacina vai nos dar uma segurança maior — afirma o pesquisador.
Conforme o estudo, Porto Alegre teria, na segunda quinzena de setembro, menos de 200 indivíduos internados com coronavírus. Hoje, a cidade tem 856 vagas de UTI, das quais 85% estão ocupadas.
A abertura das atividades no Dia dos Pais ainda não foi sentida pelos hospitais, mas pode aparecer entre esta semana e a próxima. O salto no número de internados na quarta-feira (26), como resultado de um erro no preenchimento de informações de um hospital, não altera o resultado da projeção, segundo Hackmann.
Prefeitura trabalha com platô prolongado nas UTIs
O estudo traz um panorama mais positivo do que o esperado pela prefeitura de Porto Alegre. A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) considera mais provável que a ocupação de UTIs siga um longo platô antes de ter uma lenta queda, afirma o secretário-adjunto da Saúde, Natan Katz.
— A gente não imagina um cenário desses (queda acentuada nos próximos meses). Estamos em estabilidade e planejamos mantê-la, mas esperamos estabilização ou queda bem mais lenta do que o previsto no estudo. Acreditamos que, quando a gente flexibiliza a atividade econômica, isso aumenta a mobilidade e a circulação viral. Por outro lado, quanto mais passa o tempo, mais há pessoas com anticorpos e menos chance de ter grande aceleração dos casos. Não partimos mais da ideia de fechar (atividades daqui para a frente), mas sim que o balanço tempo versus flexibilização estabilize o número de casos ativos e de pessoas ocupando UTIs — observa Katz.
Especialistas celebram a estabilidades das UTIs, mas alertam que a cidade estacionou em patamares elevados. Nesta quinta-feira (27), sete hospitais tinham lotação acima de 90%, sendo que Moinhos de Vento e Independência operavam no limite máximo.
— Estamos chegando a uma estabilização, mas ainda em patamar muito elevado de demanda. Que bom que a necessidade não sobe, mas é um desafio seguir assim por semanas ou meses, em um platô longo, com a provável demanda adicional ocasionada pela flexibilização das atividades — afirma a médica epidemiologista Jeruza Neyeloff, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).
O diretor técnico do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), Francisco Paz, que não participou do estudo, diz que o resultado conversa com a realidade e pontua que a pandemia deve perder força com o fim do inverno. A partir de então, o coronavírus deve se manifestar em surtos localizados em cidades, bairros e outros locais.
— Já percebemos que a cada dia o número de altas é igual ou maior do que o número de ingressos. Isso dá uma perspectiva de que estamos num platô. Mas a situação não está resolvida, o vírus veio para ficar e vai se incorporar ao cotidiano. Temos que continuar um nível maior de distanciamento, evitar apertar as mãos ou tomar chimarrão juntos. Só estaremos resolvidos com vacina e medicamento — afirma Paz.
A prefeitura de Porto Alegre tem se mostrado disposta a não voltar a limitar as atividades na cidade. Mas mais liberações deverão ser lentas e graduais. Apesar do pedido de empresários para liberar a abertura de lojas aos sábados, o secretário municipal da Saúde, Pablo Stürmer, afirmou que, por enquanto, o funcionamento segue de segunda a sexta-feira. Restaurantes querem abrir à noite, mas o prefeito Nelson Marchezan adota posição contrária, uma vez que mais pessoas se juntariam.
Como informa o colunista Paulo Germano, o prefeito entende que o aumento de internações em junho ocorreu em função de um decreto que liberou atividades – como resposta, a prefeitura fechou tudo aos moldes de março. A ideia não é fechar a cidade como antes, mas conviver com a epidemia da forma mais segura o possível.