Em meio às discussões entre empresariado e o prefeito Nelson Marchezan para flexibilizar atividades comerciais, as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de Porto Alegre chegaram, nesta terça-feira (4), a uma preocupante marca: 90,4% de lotação. De todos os 817 leitos intensivos à disposição da cidade, 46% eram ocupados por pacientes suspeitos ou confirmados para o coronavírus.
Hospitais costumam enfrentar lotação no inverno, mas o cenário deste ano ocorre em Porto Alegre apesar de a cidade ter criado, durante a pandemia, 275 novas vagas de UTI, uma expansão de quase 50% em relação ao ano passado. Antes, a cidade já era referência pela alta disponibilidade de leitos, em virtude da concentração de hospitais universitários.
Dez hospitais operavam nesta terça com capacidade acima de 90% – destes, dois atingiram 100% do limite: Moinhos de Vento e Santa Ana.
Entre segunda-feira (3) e esta terça-feira, a capital gaúcha ganhou cinco novos leitos em funcionamento no Hospital de Clínicas, mas a lotação das UTIs da instituição seguiu alta, em 98%.
O número de pacientes confirmados para coronavírus em Porto Alegre caiu e chegou a 309, como mostra o infográfico a seguir, mas o número de pacientes com suspeita de infecção, que variava em torno de 40 pessoas, subiu para 58.
Desde o fim de julho, as internações confirmadas para covid-19 em UTIs se mantêm estáveis (o crescimento perde força). A média móvel de internados (soma do número de internados nos últimos sete dias dividido por sete) subiu 3,5% na última semana – bem menos do que na anterior, quando crescera 13,7%.
Especialistas, contudo, vêm afirmando que o baixo crescimento da lotação de UTIs pode ser artificial e ocorrer em função de a cidade estar próxima à capacidade máxima – ou seja, como há menos vagas disponíveis, a margem para crescimento da ocupação é reduzida.
— Desde o início do modelo de distanciamento controlado, eu fazia a crítica de que, no pior da pandemia, quando os hospitais estivessem próximos da lotação, os cálculos trariam variações muito baixas (para a mudança de bandeiras) — afirma o matemático Álvaro Krüger Ramos, professor do Departamento de Matemática Pura e Aplicada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). — A gente está, desde o dia 26, quando chegamos a 316 internados, no mesmo patamar de lotação. Podemos dizer que a curva estabilizou nos últimos 10 dias, mas não que a curva está estabilizada ou que haja tendência de estabilização — pontua.
Em entrevista à Rádio Gaúcha nesta terça-feira, Marchezan descartou que a cidade reabra todas as atividades de uma única vez. A proposta é retomar novos setores a cada semana, com um fechamento quase total a cada 15 dias. Entidades empresariais, contudo, são contra a limitação e afirmam que um lockdown de uma semana não teria adesão dos porto-alegrenses.