Um abismo separa a demanda das entidades empresariais da proposta de reabertura das atividades feita pelo prefeito Nelson Marchezan na tarde desta segunda-feira (3). Os empresários sentaram-se diante de suas telas para a reunião virtual tendo como ponto de partida o documento divulgado no fim de semana, em que propõem a abertura geral da economia, apenas restringindo horários e adotando protocolos de segurança.
Tenso desde o início, o encontro mostrou, mais uma vez, que as divergências de ponto de vista dificultam o entendimento entre as partes. Marchezan começou cortando qualquer esperança de reabertura geral da economia enquanto não houver queda consistente nas internações por coronavírus em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). A proposta da prefeitura, que os dirigentes empresariais ficaram de discutir e responder nesta terça-feira (4), provocou uma onda de críticas nos grupos de WhatsApp dos empresários, sobretudo do comércio.
Marchezan sugeriu a abertura gradual das atividades econômicas por duas semanas, começando pela construção civil e seguindo com o pequeno comércio (de acordo com o faturamento) e alguns serviços e o fechamento radical depois do 15º dia, por uma semana. Como a ideia de lockdown já tinha sido rejeitada há 15 dias, a tendência é de que as entidades empresariais digam não a essa proposta, ampliando o impasse.
O prefeito justificou que essa seria uma forma de conter a disseminação do coronavírus, de forma a não sobrecarregar as UTIs, que estão operando próximas do limite. Disse que “o comércio gera circulação de pessoas como nenhuma outra atividade econômica” e que não há como liberar tudo de uma vez.
A sugestão é repetir o esquema adotado em abril, começando pelo comércio de menor faturamento, o que é repudiado por grandes empresas como Lebes, Colombo e Renner e pelo setor de shopping centers. Eduardo Oltramari, representando a Associação Comercial de Porto Alegre, retrucou que os shopping centers "não são focos de contaminação" e têm um protocolo elaborado pelo Hospital Sírio Libanês, que garante a segurança de lojistas, empregados e clientes. O prefeito disse que não duvida da qualidade do protocolo, mas mantém a preocupação com as aglomerações.
O que mais assustou os dirigentes empresariais foi a perspectiva de que o “abre e fecha” dure de dois a três meses. Isso significa perder as duas próximas janelas de vendas para o comércio, o Dia dos Pais e o Dia da Criança, e ficar apenas com o Natal para recuperar o faturamento perdido.
Marchezan pediu que os empresários façam sugestões. A resposta será dada na reunião desta terça-feira, mas a reação inicial entre os empresários é de repúdio à proposta.
A construção civil, que deverá ser a primeira atividade liberada, vinha cobrando isonomia com as obras públicas, que seguem em andamento. Nesta segunda-feira, antes da maratona de reuniões que começou com os dirigentes de hospitais e terminou com o Movimento Tradicionalista Gaúcho, Marchezan visitou as obras de substituição de redes de água na Vila das Laranjeiras, no alto do Morro Santana, zona leste da Capital.