O número de pacientes com diagnóstico confirmado para covid-19 internados em UTIs bateu um novo recorde e chegou a 67 na tarde desta quarta-feira (10), em Porto Alegre.
Foi a terceira vez em quatro dias que a Capital superou o teto anterior de hospitalizações para tratamento intensivo. Até esta quarta, o número mais alto havia sido verificado na segunda-feira (8), quando a marca de 62 leitos ocupados levou a prefeitura a suspender novas flexibilizações no distanciamento social.
Como resultado desse avanço, o coronavírus já é a causa isolada mais frequente de internação em UTI em comparação a outras patologias nos hospitais de Clínicas e Conceição — referências na cidade para enfrentar a pandemia.
No Clínicas, o mais recente levantamento disponível indica que havia 10 pessoas em tratamento intensivo por algum tipo de infecção de terça (9) para quarta, seis com problemas respiratórios (não-covid), três com patologias neurológicas e outras três com quadro de pós-parada cardiorrespiratória em um universo de 37 doentes acamados sem coronavírus.
Já as internações provocadas pela covid chegavam a 26 casos com teste confirmado, excluindo cinco suspeitas — 2,6 vezes acima da segunda causa mais comum de hospitalização entre os doentes graves.
— Além da quantidade elevada, o paciente com coronavírus é de alta demanda. De 31 casos confirmados ou suspeitos, 28 estavam em ventilação mecânica. Em comparação, de 45 pacientes em leitos críticos sem covid (dentro ou fora da UTI, mas com o mesmo tipo de recurso), 22 estavam em ventilação — revela a assessora de Planejamento e Avaliação do Clínicas, Jeruza Neyeloff.
No Conceição, conforme levantamento realizado pelo grupo hospitalar no final da tarde de terça-feira, a doença mais comum fora dos leitos covid na UTI era câncer, com 10 casos — equivalente a 26% dos doentes não-covid. Depois apareciam outros tipos de infecção respiratória, com 23%, e insuficiência cardíaca, com 6,5%. Na tarde desta quarta, a instituição tinha 18 pacientes com coronavírus, quase o dobro da quantidade de internados com a segunda causa mais comum.
— Andávamos com cerca de 65% de ocupação nos leitos covid, mas houve um aumento. Nesta terça, estava em 86%. É a principal causa de internação hoje nas nossas UTIs — confirma o diretor-técnico do Grupo Hospitalar Conceição, Francisco Paz.
A utilização geral alcançava 80% dos leitos operacionais em toda a cidade por volta das 13h. A Secretaria Municipal da Saúde informa que segue monitorando a situação nos hospitais, mas, por enquanto, não estão previstas mudanças de estratégia. Na segunda-feira, o prefeito Nelson Marchezan anunciou que flexibilizações previstas, como a autorização de mais pessoas em templos religiosos, ficam temporariamente suspensas.
— A prefeitura segue monitorando os dados, por meio de análise periódica, para que seja possível avaliar tecnicamente alguma tendência de oscilação — comenta o secretário municipal da Saúde, Pablo Stürmer.
Dos pacientes nas UTIs, cerca de 60% são provenientes de outros municípios, e 40%, da própria Capital.
Nesta tarde, Marchezan escreveu sobre o assunto no Twitter. Ele afirmou que o comitê deve se reunir novamente na sexta-feira (12) para avaliar a eventual necessidade de mais restrições.
"Entendemos que este aumento na ocupação de leitos se dá de acordo com o esperado, mas precisamos agir com cautela e por isso vamos continuar monitorando a velocidade de evolução dos casos", afirmou.
Rede privada volta a registrar aumento de casos
Os últimos dias marcaram, além de um crescimento no número de internações de pacientes graves em hospitais públicos, uma nova tendência de aumento de casos em UTIs de instituições particulares.
No Hospital Moinhos de Vento, em uma semana, a quantidade de doentes sob tratamento intensivo passou de quatro casos com teste positivo e nenhum suspeito para nove com o vírus e dois sob suspeita.
O hospital confirmou as informações, mas comunicou por meio da assessoria de imprensa que não haveria alguém disponível para entrevistas nesta quarta. Já o Hospital Mãe de Deus registrava três doentes com diagnóstico para covid-19 e seis em análise. Uma semana antes, eram dois suspeitos e nenhum confirmado.
Nas primeiras semanas após a chegada da pandemia ao Rio Grande do Sul, os hospitais privados de Porto Alegre recebiam a maior parte da demanda de doentes de covid-19 nas UTIs. Era reflexo da forma como a doença viajou rumo ao Estado — principalmente por meio de pessoas de maior poder aquisitivo que haviam visitado a Europa.
No começo de maio, o Moinhos deixou de ser a instituição que concentrava o maior número de pacientes, os quais migraram para o Conceição e o Clínicas, em uma demonstração de que o vírus rumava para a periferia. Ao longo da última semana, embora as instituições públicas sigam concentrando os novos casos, a rede privada voltou a registrar avanço na quantidade de doentes graves por coronavírus.
Ocupação no Interior
As UTIs dos hospitais de todo o Rio Grande do Sul também voltaram a registrar recorde de casos de coronavírus. No começo da noite desta quarta, havia 216 pessoas com teste positivo, contra 199 na véspera. Desse contingente, 148 estavam fora da Capital.
A ocupação geral estava em 71,6% em todo o Estado até as 19h, com 1.388 pacientes em 1.938 leitos. Desse universo, 334 tinham covid-19 ou suspeita da doença, o que representava 17,2% das vagas existentes.
Ocupação de leitos de UTIs no Interior
- 148 pacientes com coronavírus internados em UTIs – 12,1% de ocupação.
- 86 pacientes com suspeita de coronavírus em UTIs – 7%
- 627 pacientes internados por outros motivos em UTIs – 51%
- 861 – pacientes internados por covid-19 e outros motivos em UTIs - 70,5%
Total de leitos de UTIs disponíveis no Interior – 1.222