Agora a coisa chegou – não se sabe com qual intensidade, mas que chegou, chegou. O porto-alegrense, nos últimos meses, conheceu os horrores do coronavírus mais pela TV do que pela própria experiência. Pouquíssima gente tinha amigos ou familiares infectados. Alguns faziam pouco-caso da máscara. A cidade era uma redoma.
Só que ontem veio a surpresa: após uma sequência de decretos relaxando as restrições, o prefeito Marchezan mudou o tom. A ideia dele, como a coluna já havia adiantado, era liberar ainda mais atividades econômicas a partir de hoje. Mas o plano foi abortado porque o número de pacientes internados em leitos de UTI, entre suspeitos e confirmados com covid-19, tinha saltado de 67 para 98 em cinco dias.
– A gente já esperava um aumento da demanda. O que nos chamou muito a atenção foi a velocidade do crescimento dessa demanda – disse Marchezan em uma live no Facebook.
Esta semana será crucial para definir os próximos passos. Técnicos da prefeitura dizem que a hipótese de retroceder nas liberações anteriores – que permitiram a reabertura de shoppings, academias e restaurantes – transita agora "entre o possível e o provável". E a verdade é que o governo nunca escondeu essa opção.
Marchezan repetiu várias vezes que, se a curva de infectados subisse demais, se houvesse sobrecarga nos hospitais, se qualquer coisa saísse do controle, o distanciamento social seria retomado. Caso esse retrocesso ocorra, teremos um novo baque na economia – o que será terrível –, mas teremos também uma decisão acertada. Porque será a única decisão possível.
Não há como manter a demanda crescendo nesse ritmo, no sistema de saúde, sem atingir o colapso que outras capitais já alcançaram. Aliás, um dos grandes méritos de Porto Alegre, até aqui, é justamente ter essa margem para voltar atrás – isso só é viável porque a oferta de leitos, nos últimos três meses, teve um reforço considerável. Ou seja: dá para impor medidas restritivas novamente antes que os hospitais entrem em convulsão.
Tomara que não, tomara que a curva se estabilize nos próximos dias. Mas o fato é que a capital gaúcha, agora, enfim começa a conhecer o coronavírus.