O número de pacientes com diagnóstico confirmado para covid-19 em UTIs de Porto Alegre deu um salto de 38% em uma semana e chegou a 62 pessoas em alas de tratamento intensivo na tarde desta segunda-feira (8). O Rio Grande do Sul como um todo também atingiu o maior patamar de internações.
Essa é a quantidade mais elevada de doentes em estado grave já observada na Capital, e bateu um recorde verificado justamente na véspera, quando havia 54 internados. Antes disso, o número mais alto havia sido registrado em 30 de maio, data em que os hospitais informaram estar atendendo 49 pessoas com coronavírus em UTIs.
Desde aquele dia até o final de semana passado, o cenário era de relativa estabilidade em Porto Alegre. Mas, a partir da manhã de sexta-feira (5), os casos começaram a se multiplicar em velocidade inédita. Somados os 62 doentes com teste positivo e os 35 sob análise até as 14h30min desta segunda, esses 97 pacientes representavam 16% dos 601 leitos operacionais e 20,5% de todos os pacientes acamados nesses setores.
Em razão da disparada, que surpreendeu técnicos da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), o prefeito Nelson Marchezan fez uma transmissão ao vivo via rede social a partir das 15h30min para anunciar que novas flexibilizações no distanciamento social estão temporariamente suspensas na cidade como medida de segurança.
— Não é motivo de susto ou pânico, mas de cautela e de manter os cuidados com a saúde — declarou Marchezan.
Ficam valendo decretos que já estavam em vigor flexibilizando o funcionamento de setores como construção, indústria e comércio. Novas liberações envolvendo a permissão de mais pessoas em templos religiosos, a volta de esportes coletivos profissionais ou a retomada de cursos livres, que deveriam ser determinadas nesta semana, foram adiadas sem previsão de serem implementadas.
— Já esperávamos um aumento (na demanda hospitalar), mas nos preocupou a velocidade. Vamos realizar reuniões com o comitê de acompanhamento e combate ao coronavírus de forma excepcional, nesta terça, e na quarta-feira para seguir acompanhando a velocidade de ocupação dos leitos — declarou o prefeito.
Professor de epidemiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e consultor do Hospital de Clínicas, Jair Ferreira afirma que é prudente evitar novas flexibilizações no momento, mas ficar a postos para agir de maneira mais incisiva nos próximos dias dependendo do cenário.
— Pode ter sido um pico de casos novos que ocorreu uma ou duas semanas atrás. É importante seguir acompanhando para ver o que vai ocorrer nos próximos dias. Se seguir aumentando, pode ser necessário retomar algumas restrições — avalia Ferreira.
O especialista lembra que a ocupação nas UTIs e a evolução do número de mortes são os indicadores mais seguros para medir a evolução da pandemia, já que o registro de casos pode variar conforme o nível de testagem.
A Capital registrava, até aquele momento, 1.672 casos de covid-19 e 44 óbitos.
Estado também registra recorde
O crescimento no universo de pacientes com covid-19 sob tratamento intensivo também resultou em um número recorde de internações em UTIs no Estado como um todo. Por volta das 15h, a quantidade de doentes chegou a 189 e atingiu um novo patamar no Rio Grande do Sul.
O avanço da pandemia na média estadual ainda é um pouco mais moderado em comparação aos últimos dias na Capital, mas também registrou aumento. A ocupação por pessoas com coronavírus havia aumentado 14% na sexta-feira (5) em comparação a uma semana antes, mas nesta segunda o ritmo de expansão alcançou 21% em relação a sete dias antes conforme os dados disponíveis no portal de monitoramento da pandemia desenvolvido pela Secretaria Estadual da Saúde.
O novo vírus respondia, na tarde de segunda, por 10% da utilização dos 1,9 mil leitos de UTI disponíveis em todas as regiões gaúchas.