A morte da técnica em enfermagem do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) Mara Rúbia Silva Cáceres, 44 anos, poderia ser evitada, lamentam colegas.
– É uma tragédia anunciada. Fizemos alertas e protestos, avisando que isso poderia acontecer – lamenta Julio Appel, secretário-geral do Sindicato dos Profissionais de Enfermagem, Técnicos, Duchistas, Massagistas e Empregados em Hospitais e Casas de Saúde no Estado (Sindisaúde/RS).
Em protestos realizados no final de março, os profissionais reclamaram da falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) para combaterem a pandemia de coronavírus, como aventais, escudos faciais, máscaras e álcool gel. Também reivindicavam o afastamento das atividades de colegas com mais de 60 anos, gestantes e lactantes, além de portadores de doenças crônicas, caso de Mara Rúbia.
– Ela sofria com asma, fazia parte do grupo de risco e estava na linha de frente do Hospital Conceição. Trabalhou até a semana anterior a 29 de março – afirma Valmor Almeida Guedes, diretor jurídico do Sindisaúde/RS e diretor de comunicação do Valmor Guedes de Almeida, diretor da Associação dos Servidores do Grupo Hospitalar Conceição (ASERGHC).
Após as manifestações, o Sindisaúde entrou com ações na Justiça do Trabalho contra hospitais.
O processo contra o GHC teve uma audiência, por meio de videoconferência, na segunda-feira (6). Foi costurado um acordo que estabeleceu que trabalhadores do grupo de risco sejam afastados conforme norma da Organização Mundial da Saúde nos setores de emergência do GHC, do Hospital da Criança, do Hospital Fêmina, do Hospital Cristo Redentor, dos centros de triagem Covid-19, UPAs e locais de internação específica relacionada à doença.
Pelo acordo, esses funcionários serão realocados para áreas em que não fiquem expostos a risco maior. Se necessário, poderão ser afastados do trabalho. Serão mantidos os procedimentos específicos em relação ao afastamento das lactantes de locais insalubres.
Conforme o acordo, também foram acertadas medidas para fornecimentos de EPIs e higienização dos uniformes. Uma reunião de avaliação com as partes está marcada para 14 de abril.
Apesar do acordo, representante do Sindisaúde/RS acredita que a realocação pode não ser suficiente para proteger os profissionais.
– Os setores dos hospitais comunicam-se entre si, colegas e pacientes circulam por essas áreas. Além disso, não adianta restrição em ambiente hospitalar, as pessoas vão para casa e se expõem na rua – reclama Guedes.
Nove diretores do Sindisaúde/RS enfrentam problemas respiratórios após protestos em frente a hospitais na Capital. Júlio Jesien, presidente do Sindisaúde/RS, está em isolamento domiciliar, segundo ele, com diagnóstico confirmado para covid-19, doença que atingiu também a mulher dele. Outros três dirigentes estão internados, conforme Jesien. Arlindo Ritter, tesoureiro do sindicato e presidente da ASERGHC, está internado no Hospital Nossa Senhora da Conceição, e os diretores do Sindisaúde/RS Maria Lucia Schaffer e José Luciano, no Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
A reportagem de GaúchaZH questionou o Grupo Hospitalar Conceição sobre a evolução da doença na profissional e o motivo de ela trabalhar na triagem, considerando que tinha histórico de problemas respiratórios. Em nota, a entidade diz que Mara utilizava os equipamentos de proteção individual e que "obteve o atendimento preconizado nos protocolos internos, baseados em determinações do Ministério da Saúde".
Confira, na íntegra, a nota do Grupo Hospitalar Conceição
"O Grupo Hospitalar Conceição – GHC, referência no atendimento da COVID-19, sabendo do seu papel relevante no enfrentamento desta nova doença, vem desde janeiro deste ano, desenvolvendo um Plano de Contingência, treinando equipes, realizando adaptações de processos internos de trabalho, afastando empregados, renovando o quadro de pessoal e adquirindo insumos, tudo isso para dar condições ao atendimento dos pacientes com segurança de nossos empregados.
A nossa empregada Mara Rúbia Silva Cáceres foi admitida no GHC em 2014, trabalhando ultimamente como técnica de enfermagem, na emergência do Hospital Nossa Senhora da Conceição.
Importante ressaltar que a empregada desenvolvia suas atividades em local de atendimento geral, utilizando todos os EPI´s recomendados.
O GHC se reserva, em respeito à família enlutada e por adotar uma postura ética, apenas informar que a empregada obteve o atendimento preconizado nos protocolos internos, baseados em determinações do Ministério da Saúde, para pacientes com sintomas que se apresentaram".