Após enfrentar uma quarentena dura e vencer os sintomas da covid-19, o professor do Departamento de Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Fábio Klamt segue defendendo o método que usa o plasma do sangue de pacientes recuperados no tratamento de novos acometidos pela doença, que matou, até esta quinta-feira (16), 1.924 brasileiros. Segundo entrevistado da série As respostas da ciência, Klamt afirma que esse método já se mostrou eficaz no combate a outras epidemias virais:
— O princípio da técnica é uma transfusão de sangue, mas, na verdade, ao invés de você usar todo o sangue, você usa uma parte líquida do sangue, que a gente chama de plasma. Então, isso já tem sido utilizado há mais de cem anos para combater epidemias virais e com sucesso.
Ao detalhar o método, Klamt afirma que os doadores, que são pessoas comprovadamente infectadas pela covid-19, precisam ter superado todo o período da quarentena de 14 dias e não apresentar mais sintomas. Após esse período, essa pessoa teria adquirido a imunidade que pode ser passada adiante.
— Essa “cura” que a gente fala leigamente na verdade é uma imunização contra o vírus. A gente responde ao vírus, produz anticorpos e esses anticorpos estão realmente circulando no plasma, nessa parte líquida do nosso sangue. Então, ele é plasma convalescente, porque ele provém de pacientes curados, que se transformam em doadores para fazer a transfusão para um paciente que está em estado grave — salienta o professor.
Na segunda-feira, o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Denizar Vianna, informou que esse procedimento não é simples e que a pasta está estudando a aplicação.
Fábio Klamt afirma que, na história recente, esse tipo de tratamento já foi utilizado no combate aos efeitos da gripe espanhola, que assolou o mundo no início do século 20, e contra a epidemia de ebola, registrada em 2014. Destacando que nações como Estados Unidos, Reino Unido, Itália e Alemanha já estão colocando em prática o procedimento, o professor de Bioquímica da UFRGS lamenta que o Brasil ainda não esteja adotando o sistema com mais rapidez.
— Entrei em contato com os mais diversos hospitais de Porto Alegre, inclusive um que é referência em pesquisa no Rio Grande do Sul, e eles estão se organizando, mas não iniciaram ainda o recrutamento dos doadores por questões financeiras, o que me deixou realmente muito frustrado, porque, ao contrário de algum tratamento farmacológico, como a cloroquina, que você vai na farmácia, compra e trata, isso tem uma janela de tempo para organizar toda a rede — alerta.
Ao explicar o que seria essa rede no entorno do tratamento, o professor cita que é necessário identificar doadores em potencial, recrutá-los, fazer a coleta do plasma e testes no material. Depois desses primeiros passos, ainda é necessário estocar e ter um volume consistente dessas amostras para dar conta do tratamento aos pacientes em estado grave.
— Eu calculo, pela experiência em outras países, em torno de duas a três semanas para a gente conseguir organizar essa rede e ter estoques de plasma e volumes condizentes com o tratamento de pacientes — estima o especialista.
Nova doação de plasma é mais rápida do que de sangue
Segundo o professor, outra vantagem do tratamento é que, ao contrário de uma doação de sangue, onde o doador leva de seis a oito semanas para poder repetir o procedimento, a doação de plasma pode ocorrer em períodos com espaço de duas ou três semanas. Assegurando que está completamente recuperado da doença, Klamt explana a vontade de ver o método sendo tocado no país e de se tornar um dos doadores que buscam salvar vidas.
— Estou imunizado para a covid. Eu tenho os anticorpos e eu sou um doador potencial. Eu quero muito doar meu plasma. (...) A cada duas semanas, eu posso doar para tratar quatro pacientes. Para mim, isso é crucial. Atualmente, isso deveria ser tratado com investimento, muito mais como prioridade do que outros regimes experimentais que estamos vendo pela mídia — pontua.