No fim da semana passada, um consórcio entre os hospitais Albert Einstein, Sírio-Libanês e das Clínicas, todos de São Paulo, recebeu autorização da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para iniciar testes clínicos de um possível tratamento contra a covid-19. Os hospitais poderão usar o plasma de pessoas curadas do coronavírus em doentes em estado grave, para tentar acelerar o processo de recuperação dos pacientes.
O método não é novo e nem representa cura. Esse tipo de alternativa já foi utilizada em outras doenças, como a H1N1 e a síndrome respiratória aguda grave, ou SARS, com sucesso, quando combinado com outras terapias. Na China, médicos começaram a tratar pacientes de covid-19 com plasma de sobreviventes e relataram resultados positivos, especialmente no início da doença.
Apesar do bom prognóstico, os estudos requerem cautela. Em nota técnica, a Anvisa pediu cuidado aos hospitais: "Estudos científicos têm sugerido resultados promissores, porém, derivam de análises não controladas e com tamanho limitado de amostras. Ou seja, eles são insuficientes para a comprovação definitiva sobre a eficácia potencial do tratamento, requerendo uma avaliação mais aprofundada na forma de estudos clínicos", disse a agência.
Saiba como funciona o método e quais os principais pontos a serem observados para aplicá-lo:
O que é o plasma?
É a parte líquida do sangue, deixada após a remoção das células e plaquetas. Pacientes tendem a produzir um grande número de anticorpos quando adoecem, e eles geralmente permanecem no plasma dos sobreviventes por meses ou anos. É o chamado soro convalescente.
Como ele pode ajudar?
Ele pode ser conjugado com outras terapias para ajudar os pacientes a combaterem a doença. Ao receber o plasma com os anticorpos, o doente pode ter uma recuperação mais rápida e menos risco de morte. O plasma retirado de pacientes recuperados pode ser aplicado em alguém que tenha um quadro grave da covid-19 através da transfusão de sangue.
Quais as vantagens?
Se o tratamento ajudar o paciente a combater o vírus mais rapidamente, pode aumentar suas chances de cura, além de reduzir o tempo de internação. Isso permitiria disponibilizar mais rapidamente leitos para outros infectados.
Quem pode doar?
Apenas homens. Mulheres mulheres que já engravidaram (mesmo que tenham sofrido um aborto) podem ter produzido anticorpos que podem causar reações pulmonares em quem receber o plasma. Por precaução, o estudo excluiu todas as mulheres do espectro de doadores. Nos hospitais de São Paulo, o voluntário que doará o plasma também precisará: ter de 18 a 60 anos; pesar mais de 55 kg; ter feito o teste PCR, com resultado positivo para o novo coronavírus; ter apresentado um quadro moderado da doença _ pacientes que ficaram entubados ou internados por muitos dias podem não ter se recuperado completamente. Nunca ter tido hepatite B e C, doença de Chagas, Aids e sífilis.
Quem pode se beneficiar?
Até o momento, observa-se que os principais beneficiados são pessoas que evoluem para casos graves no começo da infecção. Como não tiveram tempo de produzir anticorpos, elas costumam responder melhor ao uso do plasma.
Quais os desafios?
O primeiro obstáculo a adoção da terapia em maior escala, atualmente, é que, como não há testagem em massa, o número de pacientes curados do coronavírus é inferior ao de doentes. Além disso, para doar, é preciso atender a uma série de critérios que excluem parte dos pacientes curados, o que reduz ainda mais a quantidade de plasma disponível para testes.
Também não se sabe qual a quantidade de anticorpos que seria efetiva no tratamento da covid-19. Como os testes rápidos não indicam essa concentração, o uso do plasma dos curados exigiria um exame mais detalhado para avaliar em que casos vale a pena utilizá-lo.
Há riscos?
O principal risco nesse caso é o da transfusão em si. Para evitá-lo, cabem as mesmas exigências já feitas para doações de sangue em geral, e outras precauções que a instituição de saúde julgar pertinente.