Há 10 anos morando em Rovigo, na região do Vêneto, na Itália, o pianista porto-alegrense Carlos Morejano, 40 anos, narra a situação atípica que está vivendo diante da escalada de casos de coronavírus na Itália, com registro de sete mortes. Neste relato a GaúchaZH, Morejano, que é professor no Conservatório Benedetto Marcello de Veneza e no Ópera Studio de Bologna, detalha o clima no país europeu, que já é o terceiro do mundo com maior número de casos confirmados de coronavírus, atrás da China, com mais de 77 mil casos, e da Coreia do Sul, com 833 casos.
— Não se fala de outra coisa. Televisão, rádio, jornal, internet, o assunto é coronavírus. Na sexta-feira (21), ficou mais tenso, começaram as suspeitas aqui no Vêneto. No sábado (22), eu dava aula no conservatório, estávamos meio em clima de suspense. No final do dia, depois da deliberação sobre o fechamento das universidades da região da Lombardia, logo veio também o comunicado do Vêneto, falando que todas as universidades deveriam fechar. Começaram o espanto e um pouco de histeria. Temos tanta informação e tão pouco conhecimento... Propagou-se muita desinformação — relata o músico.
Morejano ressalta que o Vêneto tem a maior colônia chinesa da Itália e que houve casos de alunos orientais xingados na rua em Veneza:
Tem frasco pequeno de álcool gel por mais de 100 euros, quando antes o preço era de quatro ou cinco euros
CARLOS MOREJANO
Pianista, morador da Itália
— Muita ignorância, muito achismo, todo mundo virou expert em virologia.
A partir de sábado, o pianista notou uma mudança radical no comportamento da população.
— Os supermercados começaram a ser atacados, como se tivesse sido decretado o Armageddon. As pessoas fazendo estoque em casa... Máscara e álcool gel, você não encontra em lugar nenhum. Na Amazon, tem frasco pequeno de álcool gel por mais de 100 euros, quando antes o preço era de quatro ou cinco. Todas as farmácias nas quais passei na frente hoje (24) tinham cartazes dizendo que não tinham nem álcool gel nem máscaras — conta o professor.
Se as pessoas quiserem entrar na histeria, diz Morejano, "o prato está feito":
— Tem muito alarmismo. A gente tenta manter a vida normal, mas é um efeito dominó em cima da tua realidade, do teu dia a dia, e que pode causar muito desconforto, muitos prejuízos financeiros, e aumentar ainda mais o espírito de animosidade que a política tantas vezes inflama e instrumentaliza.
Mais de 2,6 mil mortos no mundo
A epidemia de coronavírus já deixou mais de 2,6 mil mortos no mundo, quase todos na Ásia, especialmente na China, que já teve 2.593 óbitos. O número de casos confirmados da doença está em 79,5 mil. Não há casos confirmados na América do Sul.
O que é
De que forma surgiu o surto atual?
A origem ainda não está elucidada. Acredita-se que a fonte primária do vírus seja animal, provavelmente oriunda de um mercado de frutos do mar e animais selvagens vivos – como morcegos – em Wuhan.
A transmissão do coronavírus acontece entre humanos?
Sim. Alguns coronavírus são capazes de infectar humanos e podem ser transmitidos de pessoa para pessoa pelo ar, por meio de tosse ou espirro; pelo toque ou aperto de mão; ou pelo contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido do contato com a boca, o nariz ou os olhos. Contudo, ainda não está claro com que facilidade o novo coronavírus é transmitido de pessoa para pessoa.
O que faz
Quais são os sintomas de uma pessoa infectada pelo novo coronavírus?
Os sintomas incluem febre, tosse e dificuldade respiratória. De acordo com a OMS, a maioria dos infectados com o novo coronavírus desenvolve sintomas semelhantes aos da gripe e cerca de 20% progridem para doenças mais graves, como pneumonia e insuficiência respiratória. Crianças pequenas, pessoas com mais de 60 anos e pacientes com condições que comprometem a imunidade estão mais suscetíveis a manifestações mais graves.
Qual é a letalidade do novo coronavírus?
A estimativa inicial é de que a letalidade seja de 2% a 3%, ou seja: a doença mataria em torno de três pessoas a cada 100 infectadas.Esse índice é inferior aos registrados em outros dois coronavírus, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars, sigla em inglês) e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers, sigla em inglês).A epidemia de Sars registrou 774 óbitos em todo o mundo, com 8.096 casos entre 2002 e 2003. A taxa de letalidade foi de 9,5%. Já a epidemia de Mers notificou 858 óbitos dos 2.494 casos registrados em 2012, demonstrando uma taxa de letalidade de 34,4%.
Como se proteger
Existe um tratamento para o novo coronavírus?
Não há um medicamento específico. Aos pacientes infectados, indica-se repouso e ingestão de líquidos, além de medidas para aliviar os sintomas, como analgésicos e antitérmicos. Nos casos de maior gravidade, com pneumonia e insuficiência respiratória, podem ser necessários suplemento de oxigênio e mesmo ventilação mecânica.
Posso tomar um antibiótico para prevenir contra o novo coronavírus?
Não. Antibióticos não são indicados nem para prevenção nem para tratamento, pois não agem contra vírus, somente bactérias.
Existe uma vacina para o novo coronavírus?
Como a doença é nova, não há vacina até o momento. Contudo, as autoridades chinesas divulgaram seu código genético rapidamente e laboratórios já estão estudando como criar uma imunização aplicável em escala global. Cientistas esperam ter uma vacina pronta para testar em humanos no início de junho.
Tomei a vacina contra a gripe. Estou protegido contra o novo coronavírus?
Não. A vacina da gripe protege somente contra o vírus influenza.
Como reduzir o risco de infecção pelo novo coronavírus?
- Evitar contato próximo com pessoas com infecções respiratórias agudas.
- Lavar frequentemente as mãos por pelo menos 20 segundos, especialmente após contato direto com pessoas doentes ou com o ambiente em que elas estiveram, e antes de se alimentar. Se não tiver água e sabão, use álcool em gel 70%, caso as mãos não tenham sujeira visível.
- Usar lenço descartável para higiene nasal.
- Cobrir o nariz e a boca ao espirrar ou tossir.
- Evitar tocar nas mucosas dos olhos.
- Higienizar as mãos após tossir ou espirrar;
- Não compartilhar objetos de uso pessoal, como talheres, pratos, copos ou garrafas;
- Manter os ambientes bem ventilados;
- Evitar contato próximo com animais selvagens e animais doentes em fazendas ou criações.
Qual é a orientação diante da detecção de um caso suspeito?
Os casos suspeitos devem ser mantidos em isolamento enquanto houver sinais e sintomas clínicos. Pacientes devem utilizar máscara cirúrgica a partir do momento da suspeita e ser mantidos preferencialmente em quarto privativo.Qualquer pessoa que entrar no quarto de isolamento ou entrar em contato com o caso suspeito deve utilizar equipamentos de proteção individual, preferencialmente máscara N95, nas exposições por um tempo mais prolongado, ou então máscara cirúrgica, em exposições eventuais de baixo risco. Além disso, recomenda-se o uso de protetor ocular ou protetor de face, luvas e capote/avental.Todo o caso que se enquadrar na definição de suspeito para o novo coronavírus deve ser notificado o mais rápido possível para as autoridades de saúde.
Deve-se tomar cuidado com produtos importados da China?
Especialistas apontam que o envio de embalagens por correio internacional vindos da China não deverá trazer risco aos consumidores no Brasil, devido ao tempo decorrido entre o envio e a chegada. Isso porque, em geral, os coronavírus sobrevivem pouco tempo fora de um hospedeiro.O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos afirmou que não há, até agora, nada que indique qualquer risco associado à importação de produtos industrializados e ou de origem animal."Em geral, por causa da baixa sobrevivência dos coronavírus em superfícies, há um risco muito baixo de disseminação por meio de produtos ou embalagens enviados ao longo de dias ou semanas em temperatura ambiente."
E quem vai viajar?
Estão contraindicadas as viagens para a China e para os países com casos importados?
A OMS recomenda que medidas para limitar o risco de exportação ou importação da doença sejam implementadas, sem restrições desnecessárias ao tráfego internacional. O Ministério da Saúde do Brasil e o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos recomendam que viagens para a China sejam realizadas somente em casos de extrema necessidade, medida sugerida também pela Sociedade Brasileira de Infectologia.
O que fazer em caso de viagem para área com circulação do novo coronavírus, caso não possa ser adiada?
Proteger-se, lavando as mãos frequentemente com água e sabão ou higienizando-as com álcool em gel 70%; cobrindo a boca e o nariz ao tossir e espirrar, com o antebraço ou usando lenço descartável; evitando o contato com pessoas que apresentem febre e sintomas respiratórios; comendo carne e ovos bem passados; e esquivando-se de contato com animais selvagens vivos ou de fazenda.
Quais são as orientações para viajantes que retornam da China?
Os indivíduos que retornarem da China e que apresentarem febre e sintomas respiratórios dentro de um período de 14 dias devem procurar a unidade de saúde mais próxima imediatamente e informar sobre a viagem.
Devo usar máscara de proteção ao deixar o Brasil?
A infectologista Gynara Rezende, do Serviço de Controle de Infecção da Santa Casa e do Hospital Porto Alegre, diz que, em voos com saída do Brasil, não é preciso embarcar com máscara cirúrgica.
— E não vejo por que usar máscara nas conexões (fora do país). A maior parte dos casos está na China. Mas, na China, sugiro que a pessoa já chegue ao aeroporto de máscara e a use na rua, trocando-a a cada duas horas — fala a médica, acrescentando que basta adquirir a máscara cirúrgica comum, em farmácias, e que a do tipo N95 é recomendada para profissionais de saúde em determinadas situações.
Além de conter a dispersão das gotículas de saliva, a máscara protege a pessoa de encostar no rosto e acabar se contaminando — daí a recomendação mais importante para a prevenção de contaminação por vírus desse tipo, que é a de lavar repetidas vezes as mãos durante o dia.