A prefeitura de Santa Maria pretende aprofundar as investigações sobre a presença de DNA de protozoários que transmitem a toxoplasmose em amostras de água coletadas no município no primeiro semestre.
De um total de 26 amostras captadas no mês de junho, um laudo preliminar apresentado dia 23 de dezembro identificou fragmentos desses micro-organismos em seis - nas barragens Saturnino de Brito e do Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS), em três reservatórios da Corsan e na estação de tratamento de água. Mas duas dúvidas ainda precisam ser esclarecidas: qual o tipo de protozoário encontrado e se havia exemplares vivos e ativos na água.
O secretário municipal de Saúde, Francisco Harrisson, afirma que é possível se tratar de um tipo endêmico, mais comum no Brasil, ou de uma cepa mais agressiva relacionada ao surto que atingiu a cidade em 2018 — o que confirmaria a origem dos mais de 900 casos registrados no período, quando 12 bebês morreram. Provavelmente, serão necessárias novas pesquisas para responder a essa questão.
Segundo a prefeitura, o relatório preliminar do Laboratório de Doenças Parasitárias da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) também não detalha se foram encontrados apenas fragmentos ou micro-organismos íntegros capazes de transmitir a doença. Uma reunião foi agendada somente para o dia 6 de janeiro para os responsáveis pela análise laboratorial prestarem esclarecimentos a profissionais da Vigilância em Saúde Municipal de Santa Maria e da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan).
Questionado se não seria adequado realizar um encontro de emergência para tratar do assunto, o secretário da Saúde afirma que a situação está sob controle, e boa parte dos especialistas envolvidos não está disponível em razão dos feriadões de final de ano.
— Muitas pessoas aproveitam essa época do ano para folgar e tirar férias. Como as amostras foram coletadas em junho e desde então não houve elevação na média mensal de casos, entendemos que não é questão de emergência. Se a coleta tivesse sido feita agora, ou houvesse aumento nos registros, a situação seria outra — afirma Harrisson.
GaúchaZH não conseguiu contato com o laboratório da UFSM, que se encontra fechado no período de 23 de dezembro a 6 de janeiro por conta de um recesso. A Corsan divulgou nota assegurando que a água fornecida à população "é de qualidade e pode ser consumida sem receios", e "a população não deve buscar abastecimento de fontes alternativas, mesmo que o produto tenha bom aspecto". O texto aponta ainda que "o documento encaminhado à Corsan carece de informações técnicas".
— O resultado do exame acende uma luz de alerta quanto aos reservatórios da cidade, mas não quer dizer nada ainda. Se identificarmos que é o tipo de protozoário que causou o surto, aí sim, teríamos a origem da contaminação (de 2018) — analisa o secretário de saúde.
A intenção a partir de agora é realizar exames que consigam determinar a cepa do micro-organismo encontrado. Uma das possibilidades, se houver protozoários vivos no material recolhido, é fazer um "bioensaio" — pelo qual porcos são expostos ao contaminante e depois examinados.
— Foi a própria prefeitura que pediu o exame, em uma demonstração de que não paramos de investigar o assunto, e vamos pedir que a Corsan também faça uma análise. Também é importante avisar a população que não há motivo para pânico — sustenta o prefeito Jorge Pozzobom.
Mas a situação inspira cuidado. A média mensal de casos na cidade desde o surto verificado em 2018 chegou a ficar em cerca de sete ocorrências, mas atualmente está em 15. Segundo o secretário de saúde, esse patamar tem se mantido estável desde o começo de 2019.