O Ministério Público abriu investigação para apurar as circunstâncias que levaram à morte de um bebê de dois meses no Vale do Sinos. O caso ocorreu em 30 de setembro, no Hospital de Portão. Segundo familiares, a causa da morte da criança teria sido a falta de pediatra na casa de saúde.
Segundo informações da instituição de saúde, Sofia Fraga deu entrada na emergência da instituição às 22h. Depois de esperar meia hora e passar pela triagem, ela foi classificada como urgência e atendida pelo único médico plantonista do local. A criança teve uma parada cardiorrespiratória e houve tentativa de reanimá-la, porém ela não resistiu. As câmeras de segurança do hospital serão analisadas para confirmar a versão do hospital.
O promotor de justiça de Portão, Pietro Chidichimo Junior, afirma que tanto o hospital quanto a prefeitura têm a responsabilidade de evitar qualquer morte aconteça. O MP trabalha com a hipótese de negligência e cita a omissão do poder público em relação à saúde.
A cidade, que fica a 48 quilômetros de Porto Alegre, não tem um pediatra 24 horas pelo SUS. Todos os sete postos de saúde têm atendimento pediátrico, porém, funcionam em horários limitados e mediante entrega de fichas ou agendamento. O Ministério Público recomenda a contratação emergencial de um pediatra para o município.
A Polícia Civil de Portão também abriu inquérito para investigar o caso.
O corpo de Sofia foi levado ao Instituto Médico Legal (IML) em Porto Alegre. O laudo ficará pronto em cerca de 30 dias, segundo o Instituto Geral de Perícias (IGP). Ao final da investigação, o MP pode denunciar os responsáveis ou arquivar o processo.
Protestos
Para os moradores da cidade, a situação da falta de pediatra tem sido um grande problema. Alice dos Santos, universitária e mãe, conta que médicos do Hospital de Portão já se recusaram a medicar crianças por não serem especialistas. Ainda segundo Alice, em casos de emergência, os profissionais orientam as famílias a procurar o Hospital Regina, em Novo Hamburgo. A cidade fica a cerca de 30 quilômetros de distância de Portão.
— Estamos cansadas de não ter um especialista 24 horas e de ter que sair para outros municípios em busca de um pediatra — conta Alice.
O promotor Chidichimo Junior conta que, duas semanas antes da morte de Sofia, o MP já havia recomendado a contratação de ambulância para o hospital.
— O hospital deve ver a sua demanda e a da população. Se o hospital não tem condições de atender emergências, deveria ao menos ter uma ambulância — diz o promotor.
A prefeitura de Portão se manifestou por meio de nota e confirmou a inauguração de um Centro de Especialidades Médicas. O local terá como principal foco o atendimento pediátrico, mas a previsão de abertura é em janeiro de 2020.
Procurado pela reportagem, o Hospital de Portão não quis se manifestar até a publicação desta reportagem.
Dois protestos ocorreram na cidade após a morte de Sofia. Cerca de 40 mães se reuniram na quinta-feira (3) e no sábado (5) em frente ao Hospital de Portão. Elas reivindicam por um especialista infantil em tempo integral na cidade.