Desde a saída de 23 médicos cubanos das Unidades de Saúde de Família (USF), no final do ano passado, a crise no acesso ao atendimento na atenção básica de saúde em Gravataí tem se agravado. O problema piorou no primeiro semestre deste ano, quando a prefeitura chamou 50 médicos do cadastro reserva do último concurso público, realizado em 2017, mas apenas cinco profissionais assumiram os postos de trabalho. Atualmente, cinco Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e sete Unidades de Saúde da Família (USFs) têm falta de 16 profissionais (veja quadro abaixo).
Das 23 vagas anteriormente ocupadas por médicos cubanos, apenas 16 foram repostas. No começo do ano, o governo federal anunciou que municípios do porte de Gravataí não receberiam mais reposição de profissionais e que todos aqueles que estavam vinculados ao Mais Médicos na cidade por mais de três anos deveriam partir para cidades menores. Essa medida fez Gravataí perder mais três médicos.
Dificuldades
De acordo com o secretário-adjunto de Saúde da cidade, Reisson dos Reis, todas as USFs estão com equipes incompletas e têm falta de médicos. Nas quartas-feiras, dia de treinamento dos profissionais, não há atendimento. Na USF Itatiaia, por exemplo, deveria ter dois médicos, e só tem um. Há outros casos em que a unidade deveria ter dois ou três e só possui um.
Por falta de médicos, a população tem enfrentado dificuldade para marcar consultas pelo teleagendamento nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Elas ficam sobrecarregadas também pela falta de profissionais nas USFs, que recebem os pacientes sem hora marcada.
– Os médicos da USF são os mais difíceis de contratar, porque são especializados em saúde da família. Com as USFs sem poder atender, as UBSs acabam sobrecarregadas. Aí, as pessoas que seriam atendidas em USFs vão para o teleagendamento e disputam vaga com as pessoas tradicionais daquelas áreas – explica Reisson.
O cenário se agravou quando apenas 10% dos médicos concursados chamados pela prefeitura se apresentou. O Executivo, por sua vez, também está impedido de fazer contratações emergenciais de médicos devido a um compromisso firmado com o Ministério Público do Trabalho (MPT) em 2006 e que vem sendo questionado na Justiça.
Edital previsto para este mês
Entre as Unidades Básicas de Saúde, a situação mais grave ocorre na UBS Centro, que precisa de quatro médicos. Atualmente, tem apenas três, dos quais uma está em licença-maternidade e outro em licença-saúde. A unidade é uma das mais procuradas da cidade por estar na área central e ser de fácil acesso pelo transporte público.
Segundo Reisson, a prefeitura está tentando redirecionar um profissional de outra unidade para reforçar o atendimento ou oferecer o pagamento de horas extras. Essa negociação é, em muitos casos, delicada:
– Precisamos fazer isso de forma que não interfira nas outras atividades que o profissional eventualmente tenha fora da prefeitura. Não dá para pressionar o médico, porque isso pode incentivá-lo a pedir demissão.
A prefeitura reconhece que a solução não deve ser imediata. Entre o final de agosto e o início de setembro, será lançado o edital de um concurso público para contratação de 53 médicos. Destes, 24 serão direcionados para atenção básica (Unidade Básica de Saúde e Unidade de Saúde da Família). Os demais serão divididos entre especialidades e urgência e emergência.
Usuários sentem redução
A falta de profissionais é sentida por quem depende da rede básica de saúde. A comerciária Rosane Vieira, 42 anos, vive na região da RS-020. No ponto, conhecido como faixa de Taquara, está uma das unidades afetadas pela retirada dos profissionais do Mais Médicos, a UBS Itacolomi, onde o atendimento ficou defasado. Segundo Rosane, para conseguir uma consulta com ginecologista, foi necessário ir até à UBS do Centro. No local, ela retirou uma ficha para agendar o atendimento somente para a semana seguinte.
– Essa é a parte mais demorada. A gente vem tentar consultar, mas só consegue agendar para outra data – cita ela.
Também moradores do Itacolomi, o operador de produção aposentado José Padilha, 66 anos, e a costureira Lourdes Padilha, 65 anos, relatam que, atualmente, o médico que ficou atendendo no bairro está em férias. Por enquanto, não há atendimentos. O casal precisou deslocar-se até o Centro para buscar remédios na Farmácia Municipal, que fica junto da UBS Centro.