O médico cubano Yaser Herrera veio ao Brasil logo após concluir uma especialização em saúde da família. Sentado no corredor do posto Zona Oeste, em São Gabriel – um dos 92 municípios do RS que perderam médicos com a saída dos cubanos do programa Mais Médicos, segundo levantamento de GaúchaZH –, era constantemente interpelado por pacientes que o reconheciam em visita ao posto: “Está voltando?”, questionou Orozina de Vargas Marinho, 64 anos, após um longo abraço.
— Isso não tem preço. Não tem dinheiro que pague — disse, com os olhos marejados.
Aos 108 anos, a mãe de Orozina iniciou com o cubano um tratamento contra o Alzheimer, quando recebia, semanalmente, atendimento domiciliar.
Herrera é um dos cinco médicos do país caribenho que decidiu ficar em São Gabriel à espera de um possível novo chamamento por parte do governo federal. Sem emprego, ele vive com o que acumulou no pouco mais de um ano em que serviu ao município.
— O mais difícil é que o Brasil precisa de médico e estamos aqui. Ficamos e não podemos fazer nada — avalia.
Para trabalhar oito horas diárias, ele recebia R$ 2,9 mil dos R$ 11,8 mil da bolsa liberada pelo governo federal. O restante ia para o governo cubano, o que o médico classifica como “injusto” e “sem sentido”.
O Ministério da Saúde não vinha alimentando a expectativa dos cubanos, pois afirmava ainda estar em avaliação se será necessário abrir um edital que inclua médicos de outras nacionalidades. Nesta quarta-feira (27), porém, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que a pasta elabora uma proposta para permitir que médicos cubanos que ficaram no Brasil após a saída do programa Mais Médicos possam voltar a atuar no país.
Yaser Herrera participa de um grupo de WhatsApp com outros profissionais que tiveram de sair do programa após o fim do acordo, em 20 de novembro. Dentre os relatos no celular, há quem conte ter desistido da Medicina.
— A maioria está trabalhando em farmácia, porque é o mais próximo do que somos formados. Se tu estás sem dinheiro e sem trabalho, pega qualquer coisa. Tem outros trabalhando com acupuntura, após fazerem um curso. Outros em comércio, nos supermercados. Tem até gente que fez curso de marketing e está vendendo perfume a domicílio — disse.