Menos de uma hora por dia pode ser tempo suficiente para melhorar a saúde. Práticas como meditação, ioga ou tai chi chuan promovem resultados que vão de alívio de estresse a prevenção de doenças. E não é preciso passar semanas ou meses para sentir os efeitos.
Uma pesquisa publicada em agosto no jornal científico Frontiers of Neuroscience mostrou que mesmo um primeiro contato com a meditação já desencadeia melhorias na função cognitiva. Um dos primeiros sintomas tratados pela prática costuma ser a irritabilidade, explica Mauro Lantzman, 58, professor de psicobiologia do Centro de Ciências Humanas e da Saúde da PUC-SP.
Ele, que também é professor de meditação, fala por experiência própria.
— Eu era muito bravo, nervoso e agressivo, isso me colocava em situações de risco — conta.
Lantzman descobriu a prática há 14 anos como um caminho para o desenvolvimento pessoal.
— Minha vida adquiriu significado e isso se refletiu na minha relação com minha esposa, filhos e trabalho.
Desde 2017, meditação, ioga e outras 11 modalidades terapêuticas passaram a ser oferecidas no cardápio de terapias alternativas do SUS (Sistema Único de Saúde). O Ministério da Saúde divulgou a iniciativa como uma estratégia preventiva.
Foi após uma arritmia cardíaca que o empresário Fernando Dhelomme Filho, 60, começou a praticar ioga.
— Estava me achando o super-homem, resolvendo problemas, mas com muito estresse emocional — diz.
Na época, ele estava se separando.
— [Com a ioga] fui ganhando força interna. Agora, respiro e chego onde quero, sem magoar ninguém — diz o empresário, que aconselha a quem quer começar a praticar a achar um instrutor com quem se identifique.
Já Paula Faro, 41, tinha 24 anos quando começou a fazer tai chi chuan, prática da qual hoje é professora.
— Estava passando por uma depressão profunda que já durava dois anos e o tai chi, sua filosofia e práticas de meditação recuperaram minha energia e me devolveram a vida — diz. A arte marcial, cujos movimentos aludem a animais da natureza, pode ser adaptada a pessoas em cadeiras de roda ou em pós-operatórios.
O relatório An Introduction to Tai Chi, divulgado neste ano pela Escola de Medicina de Harvard, elenca que a prática melhora a flexibilidade, o condicionamento aeróbico e o equilíbrio, reduzindo a incidência de quedas.
— Os movimentos do corpo, concentração mental e respiração abdominal profunda e suave melhoram as trocas gasosas e auxiliam na eliminação de toxinas — complementa a professora.
A psicóloga Daniela Peres, 46, é praticante de ioga e pilates e fez pós-graduação em acupuntura. Ela conta que toda essa experiência e aprendizado a ajudou a encarar os problemas com o pensamento oriental, que afirma que corpo e mente estão vinculados, um influenciando o outro. Daniela só chama a atenção para que as práticas sejam encaradas com leveza.
— A nossa ioga é livre, ajuda a desestressar — conclui.
Ioga ajuda ciclista a superar desafios
— Parece muito engraçado, mas foi com a ioga que eu descobri que a gente respira oxigênio para viver— diz o ciclista Caetano Zammataro, 52. —É uma coisa tão automática que as pessoas não têm essa percepção.
Atleta profissional, ele adotou a prática há quatro anos.
— Queria alguma coisa que pudesse me trazer para dentro de mim — conta ele, que também escala e corre. Zammataro afirma que a ioga mudou a sua vida e até mesmo a sua já consolidada relação com os esportes.
— Se eu faço uma prova muito longa, eu pratico ioga inclusive durante a etapa. Hoje, consigo trabalhar a respiração de forma que me ajude a atingir meus objetivos — relata. O ciclista destaca como ter esse conhecimento foi importante durante uma prova de que participou na Serra da Mantiquera, em Campos do Jordão (a 181 km de São Paulo).
Na ocasião, Zammataro enfrentou uma subida de 12 km ininterruptos.
— Parei para pensar no que se passava dentro de mim e para regular minha respiração — diz. Ele afirma, ainda, que a modalidade pode ser praticada em qualquer lugar, a qualquer momento e por praticamente qualquer pessoa.
— Você ganha independência — diz. — A ioga te ensina a ser grato de verdade — conclui.