A queda da cobertura vacinal no Brasil e a epidemia do açúcar mundo afora foram alguns dos assuntos abordados pelo médico Drauzio Varella durante entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha. Conhecido por "traduzir" de forma simples temas complicados que envolvem a medicina, ele criticou os grupos que se posicionam contra a imunização:
— Temos pequenos grupos que são contra as vacinas. São pessoas de classe média alta que têm teorias absurdas a esse respeito. É gente ignorante que não tem formação médica. Como essas pessoas têm cultura em outras áreas, nós consideramos que elas sabem das coisas.
Porém, Drauzio lembrou que esse é apenas um dos fatores de um grande conjunto de causas para a diminuição na procura por vacinas:
— Quando você tem doenças infecciosas preveníveis e elas ficam raras, a tendência é relaxar. A geração atual nem sabe o que é poliomielite, por exemplo. Mais esses grupos contra vacinas. Mas eu não acho que isso explique, pois, esses grupos não têm acesso à grande população. Estamos vivendo um momento de crise financeira que atinge a saúde: as pessoas estão mais pobres e têm mais dificuldades de se deslocar e obter informações — avalia.
Sem doces há 40 anos
Além da vacinação, Drauzio também falou sobre o consumo excessivo de açúcar que tomou conta do mundo. Segundo ele, que não come doces desde 1978, o resultado disso são altos números de obesidade.
— Falo mal do açúcar, sim. Nossos ancestrais comiam raízes e açúcar só das frutas, mas não o refinado. E eles gastavam cinco horas por dia se movimentado. Hoje, é raro encontrar alguém que se exercita por cinco minutos.
E completou:
— Nós demonizamos a gordura, mas se você a tira dos alimentos, eles perdem o gosto. Então, a indústria coloca açúcar em tudo.
Por fim, o médico relembrou da última vez que tentou comer um doce, após ter eliminado da rotina, em 1978, por 28 dias:
— Fiz um estágio em um hospital americano, e lá tinham aquelas tortas maravilhosas, com cremes e frutas. Comecei a comer e, quando vi, estava repetindo. De repente me deu azia. Quando voltei para o Brasil pensei: "Vou me dar um mês sem comer doce". Um dia, minha filha de cinco anos estava comendo um quindim e deixou a metade. Aí pus na boca e me deu um enjoo de tão açucarado. Na Páscoa do ano seguinte comprei doces portugueses, mas não consegui comê-los.
Ouça o áudio da entrevista ao Timeline: