O avanço do projeto do trecho 2 da orla do Guaíba, em Porto Alegre, depende do resultado de estudos referentes à cota de inundação na região e ao sistema de proteção da cidade. A maior preocupação da prefeitura diz respeito ao futuro centro de eventos. A edificação necessita ser construída sobre um terreno com impermeabilização adequada, assim como a parte seca da marina e o playground das crianças previstos para o empreendimento.
Situada entre o Arroio Dilúvio e a Rótula das Cuias, a área de 134 mil metros quadrados será concedida à iniciativa privada por 35 anos e terá vocação cultural. Estão previstas a construção de um centro de eventos, um anfiteatro novo, uma marina pública e um farol-mirante. Cerca de 30% de todo o espaço terá área construída.
— Temos primeiro que ver como vai ficar este trecho em relação à cota de inundação — afirma a secretária municipal de Parcerias, Ana Pellini, citando que a enchente de maio não atingiu a área seca do trecho 2.
O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) contratou estudo sobre o sistema de proteção contra cheias da cidade, que inclui atualização da cota de inundação.
— O centro de eventos que pretendemos fazer lá é um pouco preocupante e precisamos ter essa certeza (sobre a cota de inundação) — pondera a titular da pasta, explicando que no espaço onde está prevista essa construção não houve registro de inundação.
No ano passado, o Dmae já havia sugerido alterações no projeto como precaução contra possíveis inundações. Ainda conforme a titular da pasta, a autorização da Marinha do Brasil para a construção da marina está "bem encaminhada".
— Aquela área mais perto da Avenida Edvaldo Pereira Paiva, ali onde tem o Anfiteatro Pôr do Sol, não alagou. Já levantamos a cota de três metros para 3m30cm, principalmente nas soleiras, para não entrar água dentro das construções. Agora talvez tenha de se elevar um pouco mais e seja preciso aterro — prevê a secretária municipal.
Pelo projeto inicial do trecho 2, estava prevista a construção de uma arquibancada com degraus para a contemplação do público. Mas isso também poderá ser alterado em razão da enchente de maio.
— Estou achando que vamos ter de fazer um dique. (O projeto) Tinha uma prainha de areia, espaço de caminhada e bancos para as pessoas apreciarem o local. Todos nós achamos que isso vai se tornar um dique — antecipa Ana Pellini.
Em relação ao Anfiteatro Pôr do Sol, a previsão é de que seja construído um novo no lugar. A inspiração será a concha acústica do primeiro Araújo Vianna, localizado onde hoje fica a Assembleia Legislativa, e também do Multipalco do Theatro São Pedro.
A consulta pública, que é o momento em que ocorre a exposição do projeto inicial e quando se escuta a comunidade, pode acontecer ainda em 2024. O edital só será lançado após haver o resultado desses estudos, o que deverá ocorrer apenas no próximo ano. O orçamento de R$ 400 milhões sofrerá acréscimo de valor em função das alterações que deverão ser feitas no terreno.
Andamento do estudo
O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) contratou o professor Carlos Tucci para a execução do levantamento. Colaborador do curso de pós-graduação em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ele também é proprietário da empresa Rhama Analysis, que ficará responsável pelo estudo.
— O que propusemos à prefeitura primeiro é uma inspeção de todo o dique. Porque ninguém sabe exatamente qual é a cota do dique ao longo de todo o trecho — compartilha o professor Tucci.
Segundo o Dmae, o estudo está na fase de elaboração do termo de referência para a contratação. Assim que for oficializado, será feito um levantamento topográfico do dique. A primeira fase envolveria a recuperação do dique para que ele funcione, a segunda englobaria a modernização, e a terceira seria estruturar um plano de contingência durante eventos como a enchente de maio. O estudo deve demorar de nove meses a um ano para ser concluído.
Em relação ao projeto de construção no trecho 2, Tucci explica a importância de tudo ser planejado tendo em vista o dique como fator de proteção.
— Só vai estar protegido o que está dentro do dique. Você não vai construir o que tenha habitabilidade fora do dique. O que ficar fora vai ter inundação — conclui, confirmando que a proposta do estudo já está na prefeitura à espera do aval para execução.