Depois de abrir comportas no Muro da Mauá e nos diques para reduzir o nível da enchente em Porto Alegre, a prefeitura começou, na manhã desta sexta-feira (24), o processo inverso para tentar vedar esses espaços e evitar que o Guaíba volte a fluir para a área urbana em razão do repique previsto por conta da volta da chuva.
Anunciado em entrevista coletiva pelo prefeito Sebastião Melo na quinta-feira (23), o fechamento dos cinco portões que foram abertos intencionalmente ou romperam durante a enchente em Porto Alegre (caso da comporta 14, na Avenida João Antônio Maciel, próximo à Sertório) teve início pouco depois das 10h.
A primeira barreira a ser recomposta é a comporta 3, localizada no Muro da Mauá, no Centro, nas proximidades da esquina com a Rua Padre Thomé. De acordo com o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), serão utilizados 50 grandes sacos de areia misturada a cimento nesse local para tentar barrar o refluxo do Guaíba em direção à cidade. O nível da água, que chegou a 3m82cm no começo da madrugada de quinta-feira, estava em 3m95cm no início da tarde desta sexta, e bateu em 4m26cm pouco depois das 16h.
Esse portão havia sido derrubado, por meio de um gancho preso a uma embarcação, na sexta-feira passada (17). Uma semana depois, a medida precisou ser revertida. Para isso, os sacos com cerca de 800 quilos a uma tonelada foram dispostos em três fileiras no chão e mais uma acima delas.
Na avaliação do professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Fernando Fan, a medida é adequada neste momento.
— Um fechamento da comporta 3 antes da entrada dos ventos previstos para essa sexta-feira pode ser benéfico, dada a possibilidade de aumento dos níveis (da água) e ocorrência de ondas — afirma Fan.
Também especialista do IPH, Fernando Dornelles acredita que os novos sacos mobilizados para bloquear os vãos têm mais chance de conter a água do que opções anteriores utilizadas pela prefeitura, bem menores e mais leves. Esse tipo de solução se tornou necessária porque há portões que foram derrubados por inteiro, como o da Padre Thomé, ou apresentaram falhas, como o 14, que chegou a ser rompido.
— É capaz de segurar, sim. Tem umas boas toneladas aí — avalia Dornelles.
Dornelles acredita que tombar a comporta não era o mais indicado, justamente pela impossibilidade de recolocá-la no lugar com facilidade. Como a medida já foi tomada, agora será preciso torcer para a combinação de areia e cimento cumprir essa função. Fernando Fan lembra que esse modelo já vinha sendo utilizado, com bom desempenho, ao redor de casas de bombas:
— Agora é a primeira vez direto no Guaíba. Vamos ver.
Os demais portões, localizadas na Zona Norte, onde a linha de proteção contra enchentes assume a forma de diques de contenção, seguiam sob observação até o final da manhã e também poderiam ser fechadas caso necessário.
Técnicos da prefeitura monitoram o fluxo de água e, caso o Guaíba volte a refluir para dentro da cidade em outros pontos, as outras quatro aberturas deverão ser igualmente fechadas por meio dos sacos de areia e cimento. Seriam utilizados 80 sacos em cada uma dessas aberturas para tentar barrar a passagem da água, em tendência de elevação por conta das chuvas das últimas horas.