Apesar do nível do Guaíba ter registrado uma breve redução nesta quarta-feira (15), o Centro Histórico de Porto Alegre registrou o efeito contrário. Ao longo da Rua dos Andradas, calçadas onde um dia antes era possível caminhar, voltaram a ser encobertas pela água.
— Ontem (terça) a água estava na lixeira do outro lado da rua e agora está pela metade. Mas eu vou ter que entrar. Vim pegar roupas na minha casa, porque saímos há duas semanas achando que isso não duraria mais do que dois ou três dias. Já não temos mais roupas para usar — disse o jovem Maurício Soares, morador da rua General Bento Martins, antes de ingressar no prédio com o alagamento acima dos joelhos.
Pontos reconhecidos da Capital, como a Casa de Cultura Mário Quintana, só podem ser acessados com barcos, que voltaram a navegar pela região. Em alguns deles, voluntários abasteciam com alimentos e água potável os moradores que não quiseram deixar seus apartamentos para trás.
— A maioria das pessoas que estão aqui são senhorinhas idosas que não têm para onde ir e, com medo de furtos, preferiram ficar em casa. Elas não têm luz e nem água. Por enquanto, vamos ajudando, mas não sei até quando vamos fazer este serviço — relatou Márcio Almeida, um dos voluntários.
A bordo de um destes caícos, a reportagem de GZH trafegou da Rua da Praia em direção à Praça da Alfândega. O local, que abriga a Feira do Livro de Porto Alegre e costumeiramente recebe um número grande de ambulantes, está completamente tomado pela enchente. Há muito lixo boiando, acumulado em cruzamentos, como a Caldas Júnior. O Centro, antes repleto de gente e barulho, agora está em silêncio que só é interrompido pelo canto dos pássaros.
Entretanto, a paisagem ganha ares sombrios com o cair da tarde. Sem luz elétrica, fica difícil até mesmo enxergar onde se pisa. Não à toa, há relatos de arrombamentos de carros e casas à noite.
Para encontrar a luz, é preciso subir até a altura da Rua Riachuelo em direção à Usina do Gasômetro, onde o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) construiu um dique para proteger uma de suas estações.
Mais abaixo, de volta à Andradas, há um único trecho iluminado por postes. Quando acaba a enchente, que vai até o Teatro do Museu do Trabalho, em frente à Praça Brigadeiro Sampaio, um minimercado surge como um oásis em meio à escuridão.
— Ficamos fechados por 12 dias. Graças a Deus, a água não entrou aqui dentro, mas ficamos sem luz e perdemos 45% do nosso estoque. Agora consegui reabrir com a ajuda de um gerador. Mesmo assim, não tem muito movimento por aqui, porque muitos moradores deixaram o bairro. Esperamos que a situação se normalize nos próximos dias — contou o comerciante Cedenir Sartori.