Conheci dona Dorcélia Fauth, 81, anos, uma semana atrás, na segunda-feira, dia 6. Estávamos encerrando, depois de quase duas horas, uma jornada pelas ruas do Centro Histórico de Porto Alegre inundado.
Jorge Fauth, o filho, estava em frente ao prédio onde mora a família, na Rua dos Andradas, próximo à Caldas Júnior. A bordo de dois botes a remo, eu, o fotógrafo André Ávila, o jornalista Carlos Etchichury e nosso guia/navegador Demétrio Luis Guadagnin, pesquisador do Departamento de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), paramos para conversar com ele.
Jorge, síndico do prédio, tentava retirar sua mãe, Dorcélia, do 14º andar. O prédio estava às escuras. Ingressamos com os botes pelo hall do edifício em meio à escuridão. Jorge ainda sugeriu que tivéssemos cuidado, que evitássemos caminhar, por entre a água, pelo lado esquerdo do acesso. Havia um poço naquele ponto e haveria algum risco.
Ao final do corredor encontramos dona Dorcélia. Usando máscara de proteção, ela subiu no bota do Demétrio, que a conduziu, em segurança, até a Caldas Júnior, na área seca. Dorcélia, que mora há 50 anos no edifício, lamentou ao sair ter deixado suas duas cadelinhas.
Quando a reportagem foi ao ar nos veículos da RBS, vários leitores e telespectadores perguntaram o que teria ocorrido com os animais.
No final de semana, a família entrou em contato com a coluna. As duas cachorrinhas estão bem. Uma se chama Fiona, uma shitzu, e outra Pity, uma pinscher.
Jorge, o filho, conta que, no dia seguinte ao resgato auxiliado por GZH, ele retornou ao apartamento e retirou as duas.
- Minha mãe dizia que não havia chorado, que não tinha conseguido dormir pensando nelas, porque tinham ficado no escuro - conta.
Além dos animais da mãe, Jorge aproveitou para salvar suas duas cadelinhas, a dachshund Cacau e a vira-lata Filó.
Dorcélia e os quatros cães estão em segurança no bairro Vila Nova, na Capital.