Dezenas de famílias da Vila Farrapos, no bairro Humaitá, permanecem há 15 dias acampadas na BR-290, na zona norte de Porto Alegre. Moradores da região que resistiram em ir para abrigos juntaram o pouco que sobrou de suas casas e se instalaram às margens do bairro inundado sob condições precárias, sem energia elétrica e sem banheiro.
Uma dessas pessoas é Jorge dos Santos, 59 anos. Ele conta que trabalhava com frete em seu caminhão, que ficou debaixo d'água, e explica os motivos para ficar no local.
— Pegamos o que conseguimos, deixamos as crianças da família em abrigos e ficamos. Aqui a gente consegue cuidar a casinha, ver se a água baixou, e nos últimos dias foi muito pouco. Por isso não vamos sair — alega.
Só no acampamento montado por Jorge, estão reunidas 16 pessoas de sua família e vizinhos. Entre elas, estão quatro mulheres. O principal apelo de todos é pela instalação de um banheiro químico.
— Estamos todos esses dias sem banheiro, com mulheres aqui. Chegamos a conseguir um químico, mas que foi levado porque era de uma empresa privada.
Além da questão sanitária, as famílias situadas nesse trecho da rodovia não possuem energia elétrica. A cozinha, por sua vez, conta com botijão de gás conseguido pelos próprios acampados. Boa parte do abrigo é constituído por lonas puxadas junto a um caminhão de um dos moradores.
As dezenas de cães de estimação ficam em casinhas ou até mesmo junto com os tutores.
Já na hora de dormir, Jorge explica que a solução foi improvisar:
— Retirei o meu carro, um Escort, que estragou no alagamento, baixei os bancos e virou minha cama. Estou dormindo nele todas as noites.
Segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, no sábado (18) o presidente da Fasc esteve no local e já foi oferecido abrigo ao grupo, "mas eles preferem ficar perto das suas residências". A secretaria informou que já fez o encaminhamento de banheiros químicos e que a Fasc tem feito doações de alimentos e produtos de higiene.