Fazendo uma rota diária, o aposentado Hugo Tavares Dias, 73 anos, vai verificar o nível da água na Rua Bernardino Silveira Amorim, no bairro Sarandi, na zona norte de Porto Alegre, para tentar avistar a casa, que ficou alagada pela enchente. Na manhã deste sábado (18), ele repetia o trajeto, mas voltou contando que ainda não tinha como chegar.
— Não estou tendo acesso a minha casa de jeito nenhum. Deve estar um vendaval lá. No dia que fez um mês que eu estava morando ali, tive que sair. Minha esperança é entrar na casa e torcer para não ter sido roubado — desabafa.
O medo dos saques é outra preocupação dos moradores da região. Em razão disso, um grupo se mobilizou e montou uma tenda na Bernardino Silveira Amorim, perto do número 680, com uma escala de quatro a cinco voluntários que fazem o monitoramento. Caso percebam uma movimentação suspeita, pegam o barco e entram na água para coibir saques.
— Nem todas as pessoas que chegam aqui são moradoras, então a gente tem que fazer uma abordagem se está saindo com televisão, geladeira… — conta o instalador de som automotivo Victor Strapasson, 34 anos, que também teve a casa e a empresa atingidas pelos alagamentos na mesma rua.
Outro morador que está desde o início no posto improvisado é o pedreiro Luiz Dipp, 54 anos. Vivendo há quatro décadas no bairro Sarandi, ele está ficando na tenda.
— Eu perdi toda a minha casa. Lá entrou água até o telhado — comenta.
Perto dali, na Avenida Caldeia, o desentupidor Valdir Saturnino, 68 anos, tomava um chimarrão enquanto observava o volume de água, que tomava a via. Ele relata que faz a conferência todos os dias para ver como está a fachada da empresa onde trabalha.
— Ainda bem. Decaiu bastante. Quero ver se segunda-feira (20) já dá para entrar. Amanhã (domingo) volto para ver — comemorou.