Após a água baixar em pontos do bairro Arquipélago, em Porto Alegre, os primeiros sinais da devastação provocada pela enchente começaram a aparecer. Na manhã desta quinta-feira (30), a reportagem de GZH esteve na Ilha da Pintada, uma das mais atingidas.
O acesso à região está comprometido, com muitos bloqueios devido a alagamentos e pessoas que seguem acampadas às margens da BR-290. Para acessar a ilha, a reportagem precisou atravessar trechos parcialmente destruídos de asfalto, por uma via alternativa. Enquanto isso, a entrada principal para quem vem da Capital segue com água na pista, com correnteza.
O trecho norte da ilha segue inundado. A única região acessível é a parte mais ao sul, sobre o caminho da Avenida Martinho Poeta.
Ao longo do trajeto, revela-se o cenário devastador, repleto de casas e muros altos que tiveram as estruturas derrubadas, dezenas de carros arrastados e capotados, além de diferentes animais mortos, em estado de decomposição. Nas paredes das residências que restaram em pé, ficou estampada a marca da água — em cerca de dois metros de altura.
Na Avenida Nossa Senhora da Boa Viagem, formaram-se bancos de areia de 1m50cm. O sedimento foi arrastado pela correnteza durante a cheia e tapou a via, além de invadir pátios de casas.
Morador do local, o metalúrgico Jair Nunes afirma nunca ter visto nada parecido.
— Moro há 25 anos aqui. Estamos acostumados com cheias, a ter que ir ajeitando a casa. Mas a água invadir nessa altura e levar tudo que temos é inédito.
Somada à devastação causada pela água, os moradores que saíram das residências ainda temem furtos. Mesmo assim, Jair diz que a família não desistirá de voltar ao lar:
— Aqui nas ilhas nós somos como uma família. Passamos todos esses anos trabalhando e nos esforçando para deixar o nosso lar do jeito que gostamos. É difícil.
Em uma praça ao lado da Colônia de Pescadores Z5, a areia formou verdadeiras dunas. Já em frente à colônia, o que antes era um estacionamento, agora mais parece a beira de uma praia.
Ao longo da manhã, equipes da Marinha do Brasil, da Defesa Civil e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) estiveram no local para prestar atendimento a moradores e distribuir cestas básicas e água potável.
A parte norte da ilha e o extremo sul, na região da Ilha Mauá, estão inacessíveis por terra. Por isso, equipes com barcos da Marinha levaram mantimentos e ofereceram resgate a pessoas que queiram deixar suas casas.
Todo o bairro Arquipélago segue sem água, devido à destruição da Estação de Tratamento de Água (ETA) local e ao desligamento preventivo da energia elétrica, já que todas as ilhas ainda têm regiões inundadas.
A ETA fica na Ilha da Pintada e foi totalmente avariada. A estrutura não chegou a desabar e está em pé, mas teve equipamentos destruídos. Partes da estação foram soterradas com lama, além de terem acúmulo de água e lixo.
Devido à dificuldade de acesso ao bairro Arquipélago como um todo, veículos anfíbios da Marinha estão em operação na região, como nas ilhas dos Marinheiros, do Pavão, das Flores e no bairro Picada, no limite de Porto Alegre com Eldorado do Sul. O efetivo conta com três viaturas leves, 10 viaturas pesadas, duas embarcações, ambulância, retroescavadeira, entre outros equipamentos.