Em meio ao silêncio e a baixa circulação em áreas alagadas de Porto Alegre, alguns comerciantes seguem trabalhando. Donos de pequenos e médios negócios estão enfrentando falta de luz e diminuição drástica de clientes para manterem as atividades.
Na rua José de Alencar, no bairro Menino Deus, são poucos os estabelecimentos que não estão de portas fechadas. A via, que teve uma pequena redução no nível d’água nesta quinta-feira (9), está alagada a partir da rua Itororó, próximo ao hospital Mãe de Deus. Poucos metros antes fica a loja de artigos de informática de Dorival Viegas, que fechou na última quarta-feira, quando a enchente se aproximou do local, mas reabriu no dia seguinte.
Mesmo às escuras, ele se coloca à disposição dos clientes para fornecer itens importantes para o momento, como carregadores portáteis e rádios de pilha. Mas até as 15h, apenas dois consumidores apareceram.
— É difícil. Não tem circulação de pessoas. A maioria dos serviços não se pode fazer pela falta da luz. Então realmente é complicado, nós estamos numa guarda. Mas decidimos abrir pois, além da prestação de serviço que nós fazemos, nós temos produtos que podem ser úteis — afirma.
Na esquina com a rua Oscar Bitencourt, uma ferragem que atua há 40 anos na região também funciona apesar das restrições. Um dos principais desafios é garantir a segurança do local, com o aumento de casos de saques e furtos a estabelecimentos, principalmente durante a noite. Para resolver isso, o proprietário Cléber Vieira resolveu dormir na própria loja, improvisando um colchão no seu escritório.
— O bairro Menino Deus já é complicado (na segurança) sem calamidade, com calamidade, está sem luz. Então resolvi dormir aqui para não precisar exigir das autoridades nesse momento — relata Cléber.
Já na avenida Benjamin Constant, bairro São João, todos os comércios estão fechados na área próxima ao alagamento — que atinge o cruzamento com a Cairú, onde há um ponto de resgates da Zona Norte. Dona de uma loja de decoração para casa, Karina Laino aproveitou que a luz voltou ao seu estabelecimento e abriu as portas após três dias. Mas, por não ser um serviço essencial, resolveu operar apenas para dar suporte a quem está atuando nos resgates.
— As pessoas estão usando a loja para poder usar água, banheiro e a luz. Eu não posso só ver as pessoas precisando, tendo o recurso. Eu preciso ajudar, eu me sinto melhor ajudando.
Entidades recomendam fechamento
Duas das principais entidades que representam os lojistas na Capital seguem recomendando que negócios em áreas de alagamento continuem fechados.
— Por questão de segurança, num primeiro momento, orientamos o comerciantes destas regiões de fecharem os negócios, isto ainda um pouco antes da inundação, e fomos renovando essa orientação. Mas a decisão é de cada empresa — afirma o presidente da Câmara dos Lojistas de Porto Alegre (CDL), Írio Piva.
O Sindicato dos Lojistas de Porto Alegre (Sindilojas) reforça a posição, mas alerta que locais que estão em áreas secas, mesmo que próximas às inundações, podem continuar funcionando, principalmente os que fornecem serviços essenciais.