Os voluntários que atuam na Zona Norte de Porto Alegre viram, nesta quinta-feira (9), uma diminuição nos resgates de urgência de pessoas em situação de risco. Por outro lado, passaram a enfrentar com maior intensidade a resistência de moradores de prédios que não querem deixar seus apartamentos, embora estejam ilhados e sem acesso a agua, luz e mantimentos.
Somente em um local, estruturado na esquina da Benjamin Constant com a São Pedro, havia o registro de pelo menos 40 moradores que se recusaram a sair. Houve caso de familiares que estavam em local seco pressionando as equipes para que levassem mantimentos a essas pessoas.
— As pessoas precisam entender que a gente está aqui salvando vidas, buscando e convencendo quem quer sair. Não podemos manter um serviço de delivery — desabafou uma voluntária.
Um dos casos mais difíceis de convencimento é de uma idosa e cadeirante, que mora no quinto andar de um prédio. Para acessar o local, a equipe de resgate precisou entrar com água na altura do peito. Foram três idas sem sucesso, até que um dos voluntários pediu para a mulher gravar um vídeo, declarando que não queria ser resgatada.
— Eu tô te pedindo para dizer o nome completo e dizer que a senhora não quer sair — solicitava um voluntário que gravou a imagem.
— Vocês estão me tirando da paciência. Eu já dei meu nome e já tem gente se oferecendo a me trazer remédio, comida. O que eu quiser. Por que eu vou sair daqui? — questionava a mulher, que está acompanhada de uma cuidadora.
Mesmo em um ponto inviável de a água atingir, no caso o quinto andar, o temor das equipes é que a água volte a subir, o que impediria um resgate, fora alguma possível emergência médica.
Além das dificuldades de acessar esses pontos em alguns momentos, as operações se encerram pelas 18h, quando a luz baixa, principalmente por questões de segurança. Há relatos de assalto e dependendo da região alguns barcos só saem com escolta de policiais à paisana.
Resgate de animais
Um dos principais argumentos para não sair de casa são os animais de estimação. Por isso, as equipes intensificaram a informação de que o resgate não deixa nenhum para trás e até retorna para buscar se for necessário.
Durante a manhã, os postos montados no Viaduto José Eduardo Utzig retiraram dezenas de animais, principalmente gatos e cachorros. Todos passavam por uma triagem inicial e depois eram entregues aos seus tutores ou encaminhados para abrigos.