Nos últimos dias, Brigada Militar e Polícia Civil realizaram juntas mais de 28 mil salvamentos em áreas inundadas do Rio Grande do Sul. Mas o foco das forças de segurança agora se volta para outro objetivo: coibir crimes. Em razão dos casos de saques, furtos, assaltos, entre outros delitos, registrados nos municípios atingidos pelas cheias, houve mudança na estratégia e todo o policiamento das duas corporações será empregado na prevenção e repressão desses casos. Ainda nesta quarta-feira (8), cem policiais militares da Força Nacional chegam ao Estado.
— Num primeiro momento, o foco foi salvar vidas, com muitos integrantes da BM e Civil auxiliando nos resgates. Como diminuiu a demanda, isso permanece com o Corpo de Bombeiros, o Exército e a Defesa Civil. Direcionamos 100% do efetivo da BM e Polícia Civil para prender aqueles que tentarem se aproveitar desse momento para praticar saques ou qualquer outro crime. O foco total agora é combater crimes e garantir a ordem pública e segurança do cidadão — afirma o secretário de Segurança Pública do RS, Sandro Caron.
Sobre os cem PMs da Força Nacional que desembarcam no Estado, caberá à BM definir em quais áreas devem ser empregados. O intuito é que esse efetivo reforce as ações que já são realizadas no RS. Também são esperados ao menos 130 policiais militares dos Estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
— São PMs que vem para policiamento preventivo e ostensivo. Conforme a demanda que vamos tendo, a BM vai direcionando o emprego dos policiais. Essa demanda vai durar vários dias, e a chegada de mais policiais vai nos permitindo ter uma ação a longo prazo. Nossas polícias hoje estamos trabalhando com 100% da capacidade — explica Caron.
Da Força Nacional, já estavam em atuação no Estado 117 bombeiros, auxiliando nos resgates e dando suporte às pessoas ilhadas. Além desses, 30 integrantes da BM que estavam dando apoio no Rio de Janeiro pela Força Nacional regressaram ao Estado. A expectativa é de que novos contingentes sejam enviados nos próximas dias pelo governo federal.
Áreas prioritárias
Em Porto Alegre
Com a mudança de estratégia, pontos receberão reforço no policiamento. Na Capital, as principais áreas se concentram na Zona Norte, como nos bairros Sarandi, Humaitá e Vila Farrapos. Também há equipes realizando patrulhas em outros locais onde moradores precisaram deixar as residências e comerciantes fecharam as portas nos últimos dias, como os bairros Centro Histórico, Cidade Baixa e Menino Deus.
— Nas áreas onde tivemos relatos nos dias anteriores, estamos reforçando policiamento. Todas as notícias que estão chegando, tão logo recebemos, por meio do monitoramento da inteligência, direcionamos os reforços do policiamento. As áreas alagadas, que antes eram patrulhadas com viaturas, agora estamos fazendo isso em embarcações. Estamos dando suporte também aos voluntários — garante Caron.
Região Metropolitana
Na Grande Porto Alegre, entre as prioridades está o município de Canoas, especialmente no bairro Mathias Velho. Nessa região, foram registrados casos de saques, tentativas de assaltos, tráfico de drogas usando embarcações e pelo menos um episódio no qual um morador disparou na direção do barco de um voluntário, onde estava um policial militar, por acreditar que eram saqueadores. Eldorado do Sul, Guaíba, São Leopoldo e Novo Hamburgo também receberão reforços.
Rodovias e Litoral
As rotas usadas para deixar Porto Alegre, após recomendação do prefeito Sebastião Melo, para tentar minimizar o colapso, também demandam reforços do policiamento. É o caso da RS-118 e da RS-040, usadas para seguir em direção ao Litoral Norte. Foram empregados efetivos do Comando Rodoviário da Brigada Militar nesses locais e de municípios no entorno. Ainda no fim de semana, houve relatos de que motoristas estavam sendo alvo de furtos e roubos nas vias.
— Não tivemos nenhum registro formal disso. Se realmente ocorreu, ficou na cifra oculta. Mas para que não ocorra fizemos esse reforço. Trouxemos policiais de outros grupos rodoviárias do Estado para atuar ali. Mobilizamos o máximo de efetivo para essas duas rodovias, para garantir a saída das pessoas que optarem por se deslocar para o Litoral — diz o comandante-geral da BM, Cláudio dos Santos Feoli.
Segundo o coronel, no Litoral o policiamento também foi reforçado, em razão do deslocamento de pessoas para a região, algo que costuma ocorrer em feriados e períodos de veraneio. Desde o início das operações, a BM prendeu ao menos 32 pessoas em casos registrados nas áreas inundadas.
Mil PMs da reserva até o fim de semana
Foram abertas as inscrições nesta quarta-feira para chamar mil policiais militares da reserva remunerada da BM para atuar nos municípios atingidos pelas inundações. Os policiais devem atuar por 90 dias, podendo haver prorrogação do prazo. As inscrições permanecem abertas até as 14h de sexta-feira (10). O programa é chamado de Mais Efetivos.
— Fizemos um edital de maneira célere, para aqueles que foram para a reserva nos últimos cinco anos. A homologação deve ocorrer ainda na sexta-feira ou na madrugada de sábado. E a convocação no sábado à tarde. Vamos conversar com todos e criar um grande processo de instrução desses militares para a missão que eles vão desempenhar – afirma o comandante-geral da BM.
O objetivo é que no domingo os policiais já estejam atuando principalmente nos abrigos e pontos de arrecadação de doações.
Segurança nos abrigos
Quatro casos de estupro – três deles envolvendo crianças de seis e 10 anos, e um de uma jovem — foram registrados em abrigos de Porto Alegre e Canoas. Os episódios, segundo a SSP, envolveram familiares das vítimas. Cinco pessoas foram presas por suspeita de serem autoras dos abusos.
— Eram situações que já vinham ocorrendo na casa dessas pessoas e foram constadas agora que chegaram aos abrigos — diz Caron sobre os crimes registrados.
Uma força-tarefa, com participação do Ministério Público, foi montada no início desta semana para acompanhar o trabalho realizado nos abrigos, especialmente com foco no acolhimento e proteção de crianças e adolescentes.
Moradores de condomínios se revezam para fazer segurança
No cenário de insegurança, com registros de saques e ataques a voluntários, condomínios residenciais têm tido dificuldade até mesmo de manter as empresas de portaria e segurança que já prestavam serviços e também de contratar novas. Desta forma, a alternativa tem sido, em alguns casos, o revezamento entre vizinhos para manter guarda.
Conforme a presidente da Associação dos Síndicos do Rio Grande do Sul, Sabrina Krug, Canoas é um exemplo de casos em que moradores estão se mobilizando para garantir a segurança de condomínios:
— Atuo para um condomínio de cerca de 600 apartamentos. A empresa que atuava não consegue mandar os funcionários por causa do alagamento e até por não conseguir garantir a segurança dos trabalhadores no local. Assim, os moradores fazem rodízio fazendo rondas e cuidando das portarias. Tem moradores que são policiais e ajudam nessa organização.
Sabrina também explica que houve tentativa de alguns residenciais de contratar empresas privadas para reforçar essa segurança, mas há dificuldade em encontrar o serviço disponível.
— Conversei com colegas síndicos e todos relatam a mesma dificuldade em contratar as empresas, que estão sofrendo com problemas de contingente, já que seus funcionários também foram atingidos pelas cheias — conta a presidente da associação, que é síndica profissional.