Foco, passos no mesmo lugar, repetição de roteiro aos sussurros e inquietação são alguns dos movimentos que marcam os bastidores das batalhas de startups, no South Summit Brazil. Após a satisfação de chegar entre as 50 finalistas da competição, os líderes de cada empreendimento precisam vender seu negócio em espaço curto de tempo, driblando nervosismo e ansiedade na busca pelo topo no evento.
Nesta quinta-feira (21), a primeira rodada dos chamados pitches — estas apresentações rápidas por meio das quais cada empreendimento tenta se destacar e passar para a última fase — foi encerrada com a categoria Sustainability & ESG.
O ambiente das batalhas de startups é bem diferente dos tradicionais duelos esportivos físicos ou online. O clima antes do início de cada competição é tranquilo, sem torcidas efusivas ou movimentação fora do normal. Não existe uma sala específica, como um vestiário, para os competidores que subirão ao palco. Todos dividem o mesmo local, em tom de cordialidade e parceria.
Parte deles fica em uma área reservada da arquibancada, na primeira fileira. Outros ficam de pé, misturados à multidão que não conseguiu assento. Quem não conhece as empresas ou não presta atenção nas camisetas com estampas dos negócios pode nem perceber eles no espaço.
A movimentação apresenta cenários distintos. Alguns representantes assistem aos adversários com atenção e calma, uns fazem movimentos repetitivos com os dedos em sinal de certa ansiedade, andam de um lado para o outro e falando sozinhos, pincelando alguns pontos do roteiro. Tem até quem se alongue como se estivesse prestes a fazer um exercício físico. Outros ficam praticamente imóveis, passando o texto da apresentação, numa bolha própria em meio a centenas de pessoas que ocupam a arena The Next Big Thing, que lembra a fotografia de um estádio de futebol. Partilha desse clima o empresário Eduardo Della Giustina, CEO da Health ID, startup focada em soluções alternativas para exames laboratoriais. Ele disputou na categoria Health.
Antes da apresentação, Giustina estava de pé, concentrado e mirando o palco que ocuparia minutos depois, apresentando os principais atrativos e diferenciais do negócio que lidera.
— É uma adrenalina lá em cima. Estou quase me sentindo um jogador de futebol. Mas sabemos que quando estamos preparados, nos sentimos seguros para entrar lá e tentar fazer o melhor, dar o show. É pra isso que a gente está aqui — resume.
O caminho dos participantes é o mesmo. Chegam na arena minutos antes da competição, recebem orientações da organização, colocam equipamento de som com microfone e aguardam sua vez de enfrentar adversários, público e jurados. Enquanto um fala, o próximo na fila aguarda em uma espécie de cercadinho, às margens do palco, local marcado por concentração e silêncio.
Tentando relaxar
No grupo Sustainability & ESG, Jeferson Rodrigues, fundador e CEO da Prediza, de Caxias do Sul, tenta usar o tempo livre para relaxar e repassar o texto antes do pitch. A startup oferece plataforma baseada em inteligência artificial para reduzir riscos e aumentar produtividade no agronegócio.
— Agora, é o horário de dar uma relaxada, a ansiedade vem desde ontem aumentando. Agora, vamos deixar preparado para falar bem, mostrar bem o nosso trabalho. (...) Mentalizo um pouco o texto agora para ele ficar cadenciado na apresentação. É melhor deixar o cérebro absorver informação, processar, do que ficar se esgotando — destaca Rodrigues.
Guilherme Castro, CEO e cofundador da Cromai, usa estratégia baseada no foco. Ele afirma que tenta centralizar seus pensamentos no roteiro da apresentação, se isolando do que ocorre no entorno:
— Eu gosto de ficar repassando o texto. Na apresentação antes da minha, eu acabo nem conseguindo prestar tanto a atenção, porque estou focado na minha. Mas depois que passa, vou aproveitar para assistir um pouquinho. (...) Antes de subir no palco é bem tranquilo, mas quando a gente sobe lá dá uma adrenalina e não tem como, dá um friozinho na barriga.
A startup de Castro tem solução que identifica padrões em imagens por meio de inteligência artificial para oferecer diagnósticos mais precisos no agronegócio e nas industrias. A empresa participou de disputa no grupo Industry 5.0, na quarta-feira.
Calma, mas com um pouco de ansiedade
Alguns participantes passam a impressão de tranquilidade na fila antes da ida ao palco. Também no grupo Health, Lucia von Mengden Meirelles, CEO da gaúcha Ostera, startup que usa inteligência artificial para aumentar as chances de sucesso na fertilização in vitro, afirmou que não estava nervosa, minutos antes da apresentação, na quarta-feira. Destacando que treinou bastante para a ação, disse que usa os minutos finais para “relaxar a cabeça”. Na opinião dela, o maior desafio do pitch é ser objetivo e detalhado em três minutos:
— O desafio é fazer uma palestra que seja cativante, mas acho que o importante é deixar os pontos principais bem claros, sem enrolar muito e tentar deixar uma margenzinha para dar uma respirada no momento e colocar tudo nos três minutos.
Após a apresentação, a maior parte dos participantes relata sensação de alívio e missão cumprida.
— É a sensação de dever cumprido. Mas voltando para o exemplo de jogador, sai extenuado do jogo, mas feliz porque acho que o importante não é ganhar, né? O importante é vir aqui, se divertir, sentir uma vibração enorme no palco. Estou muito feliz — afirma o CEO da Health ID, Eduardo Della Giustina.
Próximas etapas
Nessas primeiras rodadas, as 50 finalistas tiveram a oportunidade de apresentar seus negócios em uma apresentação curta, chamada de pitch, de 3 minutos para uma banca de jurados e para uma plateia de mais de 600 pessoas. Os negócios foram distribuídos em cinco grupos: Enterprise, Fintechs, Health, Industry 5.0 e Sustainability & ESG.
Após o fim dessa etapa, as 10 finalistas serão anunciadas nesta quinta-feira (21). Já as cinco ganhadoras serão conhecidas no último dia do evento, na sexta-feira (22), nas categorias de startup destaque, mais sustentável, mais escalável, mais inovadora e melhor time.