A queda de galhos e árvores sobre a rede elétrica figurou entre os tópicos centrais do debate público sobre a causa da falta de luz em Porto Alegre após a tempestade que atingiu o RS em 16 de janeiro. Um levantamento da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb), divulgado à época, apontou que a pasta recebeu 3 mil chamados para remoção de árvores e galhos na Capital.
Após a tempestade de quinta-feira (21), com rajadas de vento de até 90 km/h na Capital, houve 80 ocorrências do mesmo tipo na cidade. Até o final da manhã desta sexta (22), a prefeitura havia concluído 63 remoções.
Embora nesta tempestade o número de ocorrências por árvores ou galhos caídos tenha representado menos de 3% do número de janeiro, o total de unidades sem energia não seguiu a mesma proporção. Conforme a CEEE Equatorial, o pico de pontos desabastecidos na Capital foi de 229 mil clientes na quinta-feira. Em janeiro, também segundo a concessionária, o número de clientes sem energia elétrica em Porto Alegre chegou a 600 mil, sendo que alguns bairros chegaram a ficar 10 dias sem luz.
Para o secretário municipal de Serviços Urbanos de Porto Alegre (SMSUrb), Marcos Felipi, estes números indicam que o problema não é ocasionado apenas pela vegetação:
— Sempre colocamos que as árvores não foram culpadas. Obviamente que em janeiro com ventos de 120 km/h e grande quantidade de chuva ocasionou a queda de muitas árvores, velhas ou saudáveis. Desta vez, estávamos com equipes de prontidão e fizemos boa parte do atendimento no mesmo dia.
Felipi cita três árvores caídas, nos bairros Petrópolis, Moinhos e Partenon, que estavam em contato com a rede de energia. Segundo ele, os galhos foram removidos e a CEEE Equatorial chegou na sequência para religar a eletricidade.
Em janeiro, um impasse sobre a responsabilidade pela remoção das árvores que caíram também foi apontado como causa para a demora no restabelecimento da energia na cidade. Desta vez, mesmo com um volume de vegetais danificados bem inferior, o gerente de planejamento e controle da CEEE Equatorial, Rafael Crochemore, admitiu nesta sexta-feira (22), em entrevista ao Gaúcha Atualidade, que a normalização total da energia elétrica em Porto Alegre pode ocorrer somente no domingo (24). O índice de solução, segundo a empresa, era de 90% até o fim da manhã desta sexta.
Na situação atual, a explicação do gerente para a demora é que os danos ocorreram em pontos mais dispersos, o que dificulta o atendimento das equipes, que partem dos grandes blocos, seguidos de estruturas como hospitais e pontos de abastecimento de água, para então atender as demais localidades.
— Se você circula pela cidade, você nota que os grandes blocos estão recompostos. Agora, são recomposições mais simples, mas como o número de ocorrências é muito maior acabamos levando um pouco mais de tempo. Vamos atender com mais força nesses locais a partir de hoje (sexta-feira) — afirmou Crochemore.
Resolução no Ministério Público
Em entrevista a GZH em janeiro, o presidente da CEEE Equatorial, Riberto Barbanera, apontou ineficiência da prefeitura no cuidado com a arborização da cidade. Na ocasião, o prefeito Sebastião Melo fez um chamamento público pedindo por motosserras emprestadas ou doadas pela população para ajudar na remoção de árvores e galhos caídos em vias da Capital.
O tema também pautou reuniões entre a CEEE Equatorial e a prefeitura junto ao Ministério Público (MP) para definir regras mais claras para especificar responsabilidades quanto à poda de árvores em Porto Alegre.
Segundo o titular da SMSUrb, Marcos Felipi, nos encontros foi elaborado um plano de trabalho junto à concessionária para definir zonas de prioridade para podas que serão efetuadas pela Equatorial. Entre os pontos destacados estão estações de bombeamento do Dmae, instituições de saúde e também as regiões mais afetadas pela tempestade de 16 de janeiro. Conforme o secretário, o documento deve ser formalizado nos próximos dias.
Buscando equilíbrio
O engenheiro agrônomo Cássio Brufatto, diretor da regional Sul da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, diz que a entidade vê com preocupação a forma como as concessionárias e o poder público vêm gerindo a questão da arborização durante os eventos climáticos como o de janeiro. Ele frisa que, mais do que podadas ou removidas, as árvores precisam de manutenção.
— Nós não somos radicais contra a remoção. Achamos que as árvores têm que estar no lugar certo para não criarem problemas para as pessoas. Se tiver que retirar, que seja feito, mas com critérios — sublinha.
Ele lembra que a arborização de Porto Alegre já foi referência nacional e diz que falta mais integração entre as distribuidoras de energia e o poder público. Ele reitera que os desequilíbrios ambientais causados pelo desmatamento podem ser potencializados pela derrubada de mais árvores.
— A nossa preocupação é que as pessoas que se sentem muito afetadas pela falta de energia, criem a ideia de que é necessário arrancar todas as árvores. Estamos tendo problemas ambientais por desmatamento e quando recebemos efeito disso, nossa primeira reação é cortar mais árvores. Se o problema é causado por isso, vamos aumentar o problema — conclui.