Centenas de fiéis lotaram o Santuário São José do Murialdo e acompanharam a procissão no Morro da Cruz, na zona leste de Porto Alegre, nesta Sexta-feira Santa (7). A 64ª edição de um dos eventos religiosos mais tradicionais da Capital contou novamente com Aldacir Oliboni representando Jesus, papel que desempenha há 41 anos.
Antes do início da encenação que marca as celebrações religiosas da Páscoa, os fiéis acompanharam a missa no Santuário São José do Murialdo. Artistas vestidos de anjos e usando pernas de pau caminharam em meio ao público durante a bênção da marcela
— Marcela ser abençoada em um dia desses é significado de nova vida, de paz — descreveu a enfermeira Jerusa Simões, que estava acompanhada da filha Luiza, 12 anos.
Com a presença de 30 artistas profissionais e 40 membros da comunidade, que desempenharam papéis de soldados romanos e habitantes da Palestina, a Paixão de Cristo percorreu 1,5 quilômetro até o alto do Morro da Cruz, onde foi encenada a crucificação e a ressurreição de Cristo.
Um dos soldados mais antigos, o porteiro Sandro Silva da Cruz participa há 29 anos.
— Só menos tempo que o Oliboni. Ele não tem como ultrapassar — brincou Sandro, que ainda completou: — A emoção é a mesma sempre. Todo ano muda algo e se renova.
Entre as novidades deste ano, esteve a inclusão da passagem bíblica na qual Jesus impede o apedrejamento de uma mulher. A encenação aconteceu logo no início da procissão, quando foram representadas as pregações de Jesus em Jerusalém.
A intenção é conscientizar sobre um problema social e atual da violência de gênero. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul, apenas no mês de janeiro foram registrados 1.989 casos de lesão corporal contra mulheres no Estado, 5,85% a mais do que no mesmo período de 2022.
— Trouxemos essa cena para fazer referência às agressões contra as mulheres, que devem ser questionada, assim como leis que as protejam — explicou Camilo de Lelis, diretor artístico.
Entre as centenas de fiéis que sumiram o morro, muitos estavam descalços, em sinal de sacrifício.
— Faz exatamente 30 anos que subo descalça. Precisaria nascer de novo para poder agradecer a tudo, até cura de câncer — disse a aposentada Iara Santos.
Por volta das 18h40min, Jesus chegou ao topo do Morro da Cruz, onde foi realizada a última celebração do dia. O encerramento ocorreu com a encenação da ressurreição de Cristo, com fogos de artifício comemorando o momento e com o ator que interpreta o filho de Deus, segundo a tradição cristã, soltando uma pomba branca em sinal de paz.