A cinquentenária história do Pampulhinha teve capítulos densos, como a queda de receita durante a pandemia e a morte do fundador e chef de cozinha Jaime Pinheiro, em setembro de 2022, por conta de um câncer, mas se encaminha para um desfecho mais alegre. As filhas de Pinheiro Cristina Pinheiro, 53 anos, e Kelly, 46, encerraram as atividades do tradicional restaurante da Avenida Benjamin Constant, no bairro Floresta, em Porto Alegre, e vão receber amigos e clientes para celebrar a trajetória do local. A partir de abril, as portas serão reabertas, mas o local passará a ser uma loja que venderá milhares de vinhos que vivem na adega-cofre do restaurante.
— O pai era apaixonado pelo restaurante. Toquei a cozinha boa parte do tempo sem ele, mas é uma extensão da vida do pai, ele dizia que o Pampulhinha morreria com ele. Respiramos as lembranças dele em cada canto aqui dentro. Mantivemos alguma parte da decoração que reproduz o mar e fizemos um memorial com coisas preferidas da vida do pai — conta Cristina.
A esposa de Jaime, Eva, teve Alzheimer e ficou acamada por sete anos, conta Cristina, explicando que isso fez com que o pai se aproximasse ainda mais do restaurante para compensar a falta que sentia da esposa. Eva faleceu em 2021, quando Jaime já estava ansioso e depressivo por conta da pandemia, de acordo com a filha. Três meses depois,foi diagnosticado o câncer de próstata.
— Foi muito difícil para nós. Foram dois anos inteiros em uma verdadeira saga. Retomamos em 2022, mas com ele já bem doente — lamenta a filha mais velha, que é nutricionista.
Assim como o vínculo com o restaurante, Jaime fortaleceu a paixão pelos vinhos nos últimos anos. Argentinos, chilenos, brasileiros, italianos, franceses, espanhóis e principalmente portugueses, de diferentes idades e estilos, cobrem as paredes que originalmente protegiam moedas e valores do banco Panamericano. A adega abrirá para vendas a partir da segunda semana de abril. Até lá, a família receberá amigos para eventos fechados.
— Chegava a comprar contêiner inteiro. Descobria quem eram os fornecedores e era muito inteligente para importar e fazer este tipo de negócio. Quando víamos, tinha dono de vinícola e de importadora aqui na porta querendo vender vinho para ele — relembra Cristina. — Não temos pressa para vender tudo isso, não faremos liquidação. Faremos uma despedida respeitosa — acrescenta.
A proposta é manter a característica de ponto de encontro porto-alegrense, com o mesmo ambiente aconchegante e atendimento característico eternizados por Jaime e seus companheiros desde 1971.
— Tinha cliente que dizia que comia melhor aqui do que até mesmo em Portugal. Lembro de vezes que o pai saía da cozinha para ir fazer alguma coisa perto das mesas e era aplaudido por todo mundo que estava no salão. Não uma nem duas ou três vezes, mas várias. Isso nos dava muito orgulho — conta, emocionada.