Item obrigatório nas festas de final de ano, o espumante é também um dos carros-chefe da vitivinicutura gaúcha e brasileira. Foi por meio dele que o consumidor despertou o paladar para a produção nacional.
O peso do último quadrimestre confirma a relevância do período para as vendas do ano: entre 30% e 40% do total. A expectativa, conforme Daniel Panizzi, presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), é de que a comercialização em 2022 tenha um crescimento de 15% nessa categoria de bebidas à base de uva. Os dados disponíveis, até outubro, reforçam a projeção. Naquele mês, pela primeira vez na história, o volume de espumante bateu o de vinhos finos — e acumulava alta de 7%.
— É bem representativo o consumo nesse período em razão das festas – reforça Panizzi, da vinícola Don Giovanni, que integra a recém conquistada Denominação de Origem Altos de Pinto Bandeira, a primeira para espumantes no Novo Mundo.
Os vinhos finos e de mesa, em contrapartida, tiveram um recuo, até outubro, de 15%. Reflexo da reacomodação do mercado após o pico verificado na pandemia.
Para valorizar a produção gaúcha – 90% da uva destinada para vinho, sucos e espumante é produzida no Estado – buscamos indicações de 12 enólogos para cada mês do ano. Uma prova da variedade e da qualidade dos vinhedos do RS. Confira abaixo.
Janeiro
- Quem indica: Adriano Miolo, da Vinícola Miolo
Indicaria um riesling por ser um vinho refrescante, com boa acidez. É um mês de férias, quando as pessoas vão para o Litoral, onde preferencialmente são consumidos frutos do mar. Há o riesling renano, que produzimos na Campanha, e o itálico, que é variedade mais produzida no Brasil. E tem um grande histórico no Brasil. Nas décadas de 60 e 70 se produzia e consumia muito vinho branco. É um resgate a essa vitivinicultura. Os vinhos brancos estão voltando e, para janeiro, têm tudo a ver com o Litoral.
Fevereiro
- Quem indica: Bruno Motter, da Vinícola Don Guerino
O sauvignon blanc casa bem por ter um estilo fresco, leve. Pode acompanhar os dias mais quentes e vai bem com frutos do mar. É um vinho branco que remete a aromas tropicais e vem crescendo bastante no mercado. O Brasil é conhecido por essa casta de uva. Os mais encorpados devem ser servidos entre 12º C e 14º C, já os mais leves podem ter temperaturas mais frescas.
Março
- Quem indica: Edegar Scortegagna, da Vinícola Luiz Argenta
Penso em um chardonnay maturado em carvalho. É uma uva colhida na Serra, geralmente em fevereiro. Permanece de oito a nove meses em barrica e de três a quatro na garrafa. Hoje, em termos de qualidade, elegância, é a uva número 1 do Brasil — em quantidade, são as moscatéis. É versátil, serve de base para espumante e é uma variedade que se adaptou muito bem no país.
Abril
- Quem indica: Bruna Cristófoli, Cristófoli Vinhos de Família
Muitas famílias comem bacalhau e peixe na época de Páscoa. Indico um chardonnay que produzimos que fica 10 meses em uma barrica de 500 litros. Esse estágio faz com que tenha um bom volume de boca, uma persistência. É um vinho não tão leve, não tão pesado, com bom corpo, boa consistência, fica legal para harmonizar com a comida. E é um vinho para uma estação de transição.
Maio
- Quem indica: Giuliano Elias Pereira, da Embrapa Uva e Vinho
É um mês que já está esfriando. Minha indicação é um cabernet franc, vinho pelo qual me apaixonei em meu doutorado, na França. O grande mérito dessa uva é a fineza, a delicadeza e a complexidade aromática. Na boca é uma elegância, com taninos aveludados. Pode ser um rosé, jovem ou de guarda, meu favorito, que vai muito bem com uma massa, um cordeiro.
Junho
- Quem indica: Talita Nicolini Verzeletti, Vinícola Courmayeur
Um merlot, por vários fatores. É uma uva bastante produzida no Rio Grande do Sul e pode gerar vinhos versáteis, tem desde os mais leves até os mais encoprados. Também é muito utilizado em cortes. E como é frio, é legal para acompanhar founde. Tem espaço para crescer tanto em cultivo quanto em consumo. Trabalhamos com uma varietal, mas nosso carro-chefe são os espumantes.
Julho
- Quem indica: Alejandro Cardozo, consultor de vinícolas
Julho é um mês que normalmente bate recordes de frio. Por isso, nada melhor do que um vinho tinto para acompanhar. A uva syrah possibilita bebidas com aromas e sabores intensos. É possível sentir notas de mirtilo, de charcutaria e pimenta. É uma das variedades mais antigas que existem e é bastante plantada no Rio Grande do Sul.
Agosto
- Quem indica: André Donatti, Vinícola Campestre
O inverno pede um vinho tinho. Sugiro o feito com a uva sangiovese, de origem italiana, que além de ser jovem, ganhou medalha de ouro no Decanter World Wines Awards 2021, realizado em Londres. Prestigiaria ele por isso. E harmoniza muito bem com tábuas de frios, queijos leves, jamón, presuntos, carnes vermelhas sem gorduras, filés e entrecot.
Setembro
- Quem indica: Gabriela Pötter, da Vinícola Guatambu
O gewürztraminer é a cara da primavera. É uma fruta que gera um vinho aromático, com aromas florais, de ervas. É um buquê de aromas, praticamente um jardim de flores na boca. É uma bebida interessante porque, ao mesmo tempo que tem a elegância e o frescor do vinho branco, tem uma certa complexidade, com notas de pimenta. O que torna esse um vinho único entre os brancos.
Outubro
- Quem indica: Leandro Santini, Vinícola Casa Perini
Recomendo a uva moscato de Hamburgo, que produz o moscatel rosê. É também pelo mês das flores, do colorido, do outubro rosa. Por que não colocar um pouco mais de cor na nossa vida, depois de sairmos dos meses mais frios do ano? Usar mais flores nas sobremesas e acompanhar com essa borbulha. Esse moscato dá uma coloração levemente rosada, aromas florais, como jasmim, e sabor levemente cítrico na linha do pomelo.
Novembro
- Quem indica: Mario Lucas Ieggli, Vinícola Botega Czarnobay, vice-presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE)
Frescor é o que me remete novembro. Um mês que antecede o verão, ainda é primavera. E que combina muito bem com um belo chardonnay, de corpo médio e com seus aromas primários de frutas tropicais. Assim como o sauvignon blanc, com aromas mais intensos de frutas mais maduras, mais elegantes.
Dezembro
- Quem indica: Ricardo Morari, Cooperativa Vinícola Garibaldi, presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE)
O prosecco brasileiro possui aromas intensos, frescor, cremosidade. É uma opção excelente para festas de todo tipo, que são e serão muito comuns em dezembro. Para comemorar realmente o ano que passou. Seja na piscina, no happy hour. Para acompanhar, pratos leves como canapés, saladas, carnes brancas e frutos do mar.
*Colaborou Carolina Pastl