Caio Mincarone não gostava de vinho. Então, decidiu produzir suas próprias garrafas, de um jeito único, na zona rural de Porto Alegre. O empresário integra um movimento de pequenos produtores que tem conquistado paladares ávidos por produtos autorais, com mínima intervenção química, que preconizam o consumo consciente.
Na Estrada das Quirinas, região da Lomba do Pinheiro que mais parece o interior do Estado, Caio produz vinhos e pét-nats em sociedade com a mãe, Ana Maria, e pinta seus rótulos. Tudo é arte na Cantina Mincarone (@cantina_mincarone).
Primeiro, pela bebida em si. Pét-nat é um espumante de método ancestral (leia mais na página ao lado) que se tornou tendência no mercado vinícola. Em segundo lugar, pelos traços no vidro, delineados em meio ao verde de pomares e figueiras centenárias.
Com canetas especiais, o vinhateiro artista (também fotógrafo) desenha linhas e cria formas que lembram a escola surrealista do espanhol Joan Miró. Já pintou 400 rótulos. E segue pintando. Cada garrafa é diferente, na forma (em desenhos e também fotografias autorais) e no conteúdo.
Discípulo de Lizete Vicari, produtora gaúcha que cruzou fronteiras se tornou referência em vinhos naturais no Brasil, Caio perdeu as contas de quantos quilômetros rodou, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, em busca de uvas pouco usuais. Entre elas, estão a Sangiovese, a Moscato Canelli, a Barbera, a Ribolla Gialla.
- Quem faz o tipo de vinificação que nós fazemos, não segue o modelo padronizado da indústria. É quase uma contra-cultura do vinho - brinca o produtor, cujas garrafas já fazem sucesso no centro do país.
A onda pét-nat
Parece novidade, mas esse espumante que vem conquistando apreciadores no mundo do vinho, na verdade, é o que se poderia definir como um resgate do passado.
Pét-nat é a abreviatura de pétillant naturel, algo como “borbulhante natural”, em francês. Trata-se de um método ancestral de produção (criado por monges), que, com o passar do tempo, perdeu espaço à medida que a indústria vitivinícola se desenvolveu.
O método envolve apenas uma fermentação, que termina dentro da própria garrafa (os métodos tradicionais envolvem dois tipos de fermentação, em tanques e na garrafa).
No caso das pét-nats, a internveção é a menor possível. A ideia é que as próprias leveduras que ficam no vidro, façam o papel de conservantes naturais.
É uma bebida mais turva do que a maioria (veja a foto abaixo, feita durante o processo de fermentação) e com menor teor de álcool. Outra curiosidade é que a pét-nat leva tampa metálica no lugar da rolha de cortiça.
Experimentar essa bebida é sempre uma surpresa, porque dificilmente uma será igual à outra, ainda que sejam do mesmo rótulo.