As obras do projeto Caixa Cultural de Porto Alegre serão retomadas este ano, alimentando uma expectativa que se constrói há quase duas décadas de espera. O projeto envolve a reforma do prédio do Cine Teatro Imperial, localizado na Praça da Alfândega, no Centro Histórico, e a instalação de um centro para atividades artísticas e culturais, aos moldes de outras unidades mantidas pela Caixa Econômica Federal no Brasil. A entrega do novo aparelho cultural à Capital, contudo, ainda não tem data para ocorrer.
Nesta segunda-feira (6), a Caixa confirmou que um processo de licitação está em fase de "habilitação técnica". Isso significa que as empresas classificadas na concorrência devem comprovar sua capacidade técnica de realizar os serviços que estão descritos na licitação. Assim que a empresa vencedora estiver tecnicamente habilitada e a contratação for efetivada, a reforma poderá ser retomada.
"Para esse ano, serão realizadas obras de infraestrutura na edificação. As obras irão iniciar tão logo seja concluído o processo para a escolha da empresa que a executará. Uma vez que serão reformados todos os pavimentos da torre principal e, tendo em vista o prazo previsto em edital para conclusão das obras, estima-se que elas terão duração de aproximadamente 15 meses", informou a Caixa por nota de sua assessoria de imprensa.
O prédio, que por décadas abrigou o Cinema Imperial e depois cedeu espaço para a composição no modelo duplex com a abertura do Cinema Guarany, dentro da mesma estrutura, teve sua construção concluída em 1931 e está tombado pelo patrimônio da Capital desde 2004. O imóvel pertence aos bens públicos da cidade e tornou-se objeto da parceria entre a Administração do município e a Caixa.
Conforme o prefeito Sebastião Melo, a reforma para edificação do centro cultural está em andamento desde 2004, quando um termo de cooperação foi firmado entre o Município de Porto de Alegre e a Caixa Econômica Federal, mas vem enfrentando uma série de adversidades pelo caminho.
Em episódio recente, segundo o chefe do Executivo municipal, ao iniciarem escavações do pavimento térreo para o subsolo, foi encontrada uma rocha de grandes dimensões abaixo do piso original. A retomada das obras chegou a ser anunciada no ano passado pelo prefeito, mas ajustes foram necessários e retardaram novamente o avanço da benfeitoria.
Com a situação inesperada, o orçamento previsto para a realização da obra teria sido onerado e um clima de incerteza foi colocado sobre a continuidade do projeto.
— Tem sido uma dura negociação, mas contrato a gente cumpre. Dessa forma, colocamos a situação dessa forma para a administração da Caixa. Ou a obra prosseguiria, ou teríamos que tomar medidas cabíveis para assegurar o cumprimento do contrato — apontou o prefeito.
O projeto define que a Caixa vai disponibilizar um teatro onde funcionava o antigo cinema e irá ocupar os primeiros três andares para finalidades relacionadas a atividades artísticas e incentivo ao desenvolvimento cultural.
Os sete pavimentos superiores serão entregues à Administração municipal, que pretende instalar setores do serviço público no local.
O banco mantém Caixas Culturais em Brasília, Curitiba, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Os locais estão dotados de auditórios para espetáculos e eventos, salas de cinema e de exposições para artes plásticas. Os locais compartilham acervos artístico e histórico, este último com peças relacionadas ao desenvolvimento do sistema financeiro do país, contendo itens como moedas e cédulas, equipamentos e mobiliário de períodos passados.
Imperial foi o cinema de gerações de porto-alegrenses
Tombado entre o patrimônio histórico-cultural da Capital, o prédio que irá abrigar a Caixa Cultural de Porto Alegre é um monumento arquitetônico inaugurado em 18 de abril de 1931, o qual acalentou, por gerações, a relação dos porto-alegrenses com a sétima arte. São milhares de sessões de cinema que ficaram marcadas na memória de quem esteve no Cine Teatro Imperial.
A edificação está localizada diante do calçadão de pedras portuguesas, na face da Praça da Alfândega por onde percorre trecho da Rua da Praia. O ambiente era o coração cultural, social e político da cidade.
A autoria do projeto é dos arquitetos Egon Weindorfer e Agnello Nilo de Lucca. Concedeu uma atmosfera sofisticada ao Centro, marcando o início da verticalização na cidade, que ainda tinha casarios portugueses pela Rua dos Andradas naquela época.
O projeto concebeu uma grandiosa sala de espetáculos com 1.632 lugares, dividida entre salão, galerias laterais e mezanino. Mais tarde, já nos anos 1980, já sob uma realidade de popularização da arte cinematográfica, foi introduzido no local o conceito de duplex, passando a comportar duas salas: Imperial e Guarany, mantendo programações distintas e ampliando a oferta de filmes em cartaz.
De propriedade municipal, em 2004 o edifício se tornou objeto do projeto em parceria com a Caixa, mas a recuperação do prédio tem se arrastado por quase duas décadas, tendo interrupções na sequência de obras ao longo deste período.