Um ninho de joão-de-barro (Furnarius rufus) construído em um local de destaque no Parque da Redenção, em Porto Alegre, tem chamado a atenção dos frequentadores. O pássaro escolheu uma estátua do Monumento ao Expedicionário, concebido pelo escultor pelotense Antônio Caringi (1905-1981), como endereço. A obra homenageia os pracinhas brasileiros que lutaram na Segunda Guerra.
Glayson Bencke, ornitólogo do Museu de Ciências Naturais da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), ao observar as fotos desta reportagem, explicou que se trata de um ninho inacabado: tem todas as paredes externas, menos a habitual parede em curva, que é frontal, com a função de proteger o interior. Falta o que seria a porta da estrutura.
Pode-se estimar que o ninho foi iniciado nos últimos dois meses, e a construção talvez tenha sido interrompida por alguns dias, ou até mesmo vários, devido à falta de chuva.
— Essas aves estão fora do período reprodutivo, que vai de setembro a dezembro, o período mais quente, de primavera e verão, quando tem mais alimento. Criaram os filhotes, que já saíram do ninho. Mas o joão-de-barro é muito diligente: quando tem oportunidade, constrói um ninho. A disponibilidade de barro macio é muito imprevisível. Pode chegar um período ótimo para reproduzir, mas sem barro. Então, ele faz um ninho sempre que pode, mesmo no inverno — afirma Bencke.
Como o joão-de-barro é uma ave comum, presente em alta densidade, não é infrequente que utilize estruturas artificiais para os ninhos. Entre as mais procuradas, estão postes de luz e de cercas e também prédios em construção. O fator mais importante a ser considerado nessa escolha é a segurança. É preciso, ainda, ter uma superfície mais horizontal.
Conforme Bencke, a estrutura do ninho pode ser duradoura, mas não com a qualidade e as condições adequadas para ser utilizada novamente. O joão-de-barro nunca usa o mesmo ninho de um ano para o outro — faz um novo na temporada seguinte. O trabalho deixado para trás, no entanto, é reaproveitado por outras aves.
— Espécies como a andorinha e o canário-da-terra também usam os ninhos do joão-de-barro — diz o ornitólogo.