O Rio Grande do Sul ganhou em fevereiro um levantamento inédito que compila todas as 12,5 mil espécies já identificadas no Pampa brasileiro. Publicado na revista internacional Frontiers of Biogeography, o estudo levou cerca de dois anos, nos quais pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) reuniram trabalhos já realizados sobre plantas, animais, fungos e outros microrganismos que compõem o bioma.
Por enquanto, são 12,5 mil espécies já descobertas, o que representa 9% da biodiversidade brasileira – percentual alto, considerando que o Pampa ocupa cerca de 2% do território do país. Mas o coordenador da pesquisa, professor Gerhard Overbeck, diz que o número de espécies pode ser muito maior.
— Eu não me arriscaria a fazer uma estimativa, mas há alguns grupos de espécies em que certamente a diversidade ainda é muito subestimada. No grupo de formigas, por exemplo, sabemos que há muitas não descritas, e mais ainda entre os microrganismos — relata o pesquisador.
Liderado por Overbeck, o levantamento foi realizado também pelos pesquisadores de pós-doutorado Bianca Ott Andrade e William Dröse, do Departamento de Botânica da UFRGS. Contou, ainda, com a participação de mais de 120 pesquisadores de 70 instituições de pesquisa.
— Foi um grande esforço coletivo. O conhecimento já estava lá, mas era muito fragmentado. Se perguntassem quantas espécies de alga havia no Pampa, por exemplo, isso não estava disponível, e agora está — comemora o docente.
Com essa organização, os pesquisadores constataram que a biodiversidade era superior à esperada, especialmente em alguns grupos, como algas, aves e mamíferos. Com o estudo, também foi possível ampliar as informações sobre a presença no bioma de peixes, anfíbios e répteis típicos de ambientes campestres da região do Rio da Prata.
As informações permitirão uma maior compreensão sobre a riqueza da biodiversidade do Pampa e a criação de políticas públicas mais qualificadas para a região – pelo menos é o que espera Overbeck:
— O bioma Pampa, muitas vezes, é negligenciado pela opinião pública. A sociedade não valoriza o Pampa como valoriza a mata atlântica, porque as pessoas acham que a biodiversidade está na floresta. Consequentemente, a atenção, nas políticas públicas, é menor no Pampa, e aí se conserva menos.
Conforme levantamento do MapBiomas, o Pampa perdeu o equivalente a 70 vezes a área do município de Porto Alegre, entre 1985 e 2021. A estimativa é de que 3% do bioma esteja inserido em áreas de preservação no Brasil.