Um terreno de 1,6 hectare, com árvores e um campo de futebol dividido em quatro menores esconde histórias do futebol gaúcho na Rua Doutor Alcides Cruz, 125, no bairro Santa Cecília, em Porto Alegre. No local ficava o estádio do extinto Grêmio Esportivo Força e Luz, o Forcinha, como era conhecido. A área pertence ao Grupo Zaffari desde 2006, quando foi arrematada em leilão por R$ 9,5 milhões. Até o momento, no entanto, não há nenhuma informação sobre um futuro empreendimento no local.
O gramado do antigo estádio da Timbaúva, chamado assim no passado em função da existência de uma árvore dessa espécie em seu entorno, é aparado periodicamente. Existe uma pequena casa no local, onde sempre há alguém zelando pela manutenção da área, que fica situada a poucos metros de pontos de intensa movimentação no trânsito como a Rua Silva Só e também a Avenida Protásio Alves.
Após o Zaffari adquirir o terreno, era comum serem disputados jogos de futebol entre os colaboradores do supermercado durante confraternizações aos finais de semana. Há alguns anos, até o cantor Chico Buarque participou de uma “pelada” noturna no local quando realizou um show na Capital. Na ocasião, refletores foram instalados para melhorar a iluminação. Posteriormente, foram retirados.
História do clube e do estádio
Fundado há mais de um século, em 8 de setembro de 1921, o clube de cores vermelha e branca era mantido pela companhia de Força e Luz, comandada pela empresa Light, dos Estados Unidos. Após ser estatizada pelo então governador Leonel Brizola, o nome da agremiação não foi trocado. Com a compra da área pela Companhia Carris Porto-Alegrense (Carris), em 1934, e da então Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), funcionários destas empresas permaneceram como sócios do clube.
O Forcinha venceu o tricampeonato de aspirantes em 1935, 1936 e 1937. Também ficou com o vice-campeonato da cidade em 1941, 1947 e 1948. Porém, em termos de futebol, nunca chegou a ser uma potência.
O estádio foi inaugurado em 14 de abril de 1935, com derrota do Força e Luz para o Inter por 5 a 1. O clube tinha fama de possuir o melhor gramado de Porto Alegre, superando até os campos do Grêmio (Baixada) e do Inter (Eucaliptos). Além disso, sediou a primeira partida de futebol do campeonato brasileiro de seleções entre gaúchos e cariocas. O jogo foi disputado na Timbaúva, no dia 7 de junho de 1936.
O Força e Luz acabou sendo o time de alguns jogadores importantes, como Dorval, ponta-direita que atuou no Santos de Pelé; Abigail, lateral-esquerdo do Inter e do lendário Rolo Compressor, além do zagueiro Airton Ferreira da Silva, o Pavilhão, que recebeu essa alcunha por ter sido comprado pelo Grêmio junto ao Forcinha por 50 mil cruzeiros e mais um pavilhão em troca.
No livro Airton Pavilhão - O zagueiro das multidões, o autor Celso Sant’Anna reproduz o que agitava o noticiário esportivo da Capital em 1954:
“(…) O Forcinha, afinal, tem grande interesse no pavilhão da Baixada do Fortim, de 50 metros de comprimento, 10 degraus de arquibancada e coberto com telhas de zinco. Há tempos que as acomodações do clube das timbaúvas, que tem o melhor campo gramado de Porto Alegre, não comportam o público de sua agremiação, sem falar nos 50 mil cruzeiros. O negócio é feito e o Grêmio se compromete a instalar o pavilhão assim que inaugurar o estádio Olímpico, em setembro do mesmo ano”.
Airton foi para o Tricolor, enquanto o pavilhão acabou, de fato, instalado no estádio da Timbaúva. Conforme o Grêmio, que chegou posteriormente a demonstrar interesse em readquirir junto ao Força e Luz o pavilhão negociado ou parte dele, a estrutura original em madeira não existe mais.
O Forcinha participou do futebol profissional, depois ficou apenas com as categorias inferiores. Chegou a ter outros nomes como Esporte Clube Rio Branco e até Esporte Clube Corinthians Porto-Alegrense, mas voltou à denominação antiga. Em 1959, encerrou seu departamento de futebol, mas retornou no Campeonato Gaúcho de 1972. Fechou em definitivo em 2006, quando ainda participava de torneios de veteranos, após a venda da sede.
Questionada sobre o destino da área, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) informou que “não há nenhum projeto tramitando na prefeitura para este endereço.”
A reportagem de GZH procurou o Grupo Zaffari para saber sobre o futuro do local, inclusive sobre a possibilidade de a Rua Dona Eugênia, que fica em uma das extremidades do terreno, ser aberta até a Silva Só no futuro, o que dependeria de aval da prefeitura e facilitaria as operações de um possível supermercado no local. Por meio de nota, a assessoria de imprensa respondeu o seguinte: “No momento, não temos liberadas para divulgação informações sobre este espaço. Também não podemos autorizar produções fotográficas no local.”