Tomar um banho em um dia quente ao chegar em casa após o trabalho, não ter dificuldades para lavar as roupas e ter água para cozinhar. No Morro da Cruz, na zona leste da Capital, problemas como estes estão, de fato, mais perto de serem resolvidos com o início da obra de substituição e ampliação de 5.943 metros de redes de água.
O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) começou, na semana passada, o trabalho que beneficiará cerca de 2,2 mil moradores com melhorias. A obra faz parte da força-tarefa da prefeitura para amenizar o desabastecimento na região, principalmente, no verão. Conforme o Dmae, o prazo estimado para execução total do serviço é de 12 meses. No entanto, uma condição melhor no abastecimento do Morro da Cruz já é esperada no próximo verão, devido às melhorias já realizadas. Desde fevereiro deste ano, a prefeitura trabalha em atender a população da área com medidas que garantam abastecimento, como a distribuição de caixas d’água para famílias cadastradas.
Para a líder da comissão de moradores do Morro da Cruz, Beatriz Severo, 40 anos, as melhorias implementadas na região são resultado de pedidos e protestos da comunidade, no auge do verão passado:
– Já passamos de 15 a 20 dias sem água, sem uma gota. Fazia anos que não acontecia nada de melhorias aqui.
A reportagem visitou as obras no final da Travessa Santa Teresa, via que também é conhecida por Quitamban, onde funcionários do Dmae abriam o solo para a instalação das novas tubulações em polietileno de alta densidade – com diâmetros de 63 a 225 milímetros – que substituirão a função que hoje é das mangueiras.
– A gente espera que melhore agora, porque não aguentamos em dias de calor aqui. Quando falta água, tem que ir buscar nos parentes lá para baixo (na descida do morro) para tomar banho. Tem vezes que compramos água para beber porque quando a água volta vem com gosto ruim, com gosto de terra. Às vezes, chega para todo mundo lá embaixo e aqui demora um dia e meio para chegar. A baixa pressão também prejudica no chuveiro e na máquina de lavar roupas, que tem dias que nem dá para usar – relata Patrícia Sutil Melo, 34 anos, dona de casa, que mora com seis pessoas.
Trabalho feito por etapas
Conforme o diretor-geral do Dmae, Alexandre Garcia, a comunidade terá uma rede de grande diâmetro, calculada para atender à demanda:
– Serão duas tubulações, uma que sobe com água até o ponto mais alto onde tem o reservatório e, depois, uma em que a água desce com a gravidade abastecendo as casas.
Segundo Garcia, na área existem fatores que dificultam e diminuem o ritmo da obra. Das dificuldades citadas por ele, estão os becos mais estreitos e íngremes, onde se fazem necessários equipamentos menores e até de escavação manual por parte dos funcionários. Além disso, o diretor-geral afirma que uma preocupação é garantir o controle de qualidade da água após a realização do serviço:
– Depois que passa a rede, uma parte do trabalho que é muito suja, temos que garantir o controle de qualidade da água, a potabilidade. Para isso, é feita a lavagem e desinfecção desta rede, até o momento que o laboratório vai lá e faz as análises. Só depois dessa parte é feita a ligação das redes nas casas.
A obra prevê a execução de 450 ligações de ramais de água, entroncamentos e, por último, cortes da rede antiga a ser desativada. Conforme Garcia, o trabalho será executado em partes, com a setorização da rede distribuidora em áreas menores. Uma das vantagens dessa divisão é que, durante consertos emergenciais e serviços programados, a área desabastecida será reduzida e, consequentemente, isso agilizará o retorno da água.
– São vários os setores, conforme for finalizando cada setor, vamos colocando água. Algumas pessoas terão a água só no final (da obra) e outras terão conforme terminado o setor onde estão alocados – explica Garcia.
No entanto, não há como estimar quanto da obra já estará pronta até o próximo verão, pois, conforme o Dmae, depende do andamento e de todas as variantes que afetam o trabalho, como o difícil acesso e condições climáticas adversas.
Distribuição de caixas d'água
Desde fevereiro deste ano, a prefeitura faz entregas de caixas d’água na região do Morro da Cruz. Conforme a Secretaria Municipal de Habitação e Regularização Fundiária (SMHARF), são 459 famílias habilitadas para receber os recipientes. Do total, até a semana passada, 296 já estão com as caixas d’água em casa, enquanto 163 ainda não receberam.
De acordo com o secretário municipal de Habitação e Regularização Fundiária, André Machado, há material aguardando recolhimento por parte das famílias na Escola Morro da Cruz.
– Temos o empreiteiro pronto para fazer a colocação de mais caixas. Estamos aguardando por parte da comissão de moradores que nos apontem onde fazer as instalações nas áreas que não vão receber a melhoria definitiva da rede do Dmae. Mantemos os cadastrados e vamos priorizar a entrega naquelas regiões onde o abastecimento formal não vai passar – explica Machado.
Sobre as instalações, Garcia, do Dmae, destaca que com as caixas d’água nas casas parte do problema do abastecimento já foi neutralizado. Entre as ações para qualificação do abastecimento da região, foram investidos mais de R$ 4 milhões, conforme a prefeitura. Em março, o Dmae havia trabalhado na capacidade de bombeamento do Reservatório Cota 200, também no Morro da Cruz, que apoiava o fornecimento de água para regiões até 230 metros acima do nível do Guaíba. Também foram instalados três reservatórios que totalizam 50 mil litros. Com a ampliação da rede, o total investido será de R$ 6 milhões.