Maurício de Oliveira tinha 12 anos de idade quando foi baleado durante uma briga de trânsito em Porto Alegre. Estava indo com a família para um parque de diversões, saindo da Vila Nazaré, onde morava, na zona norte da cidade, quando a situação aconteceu, no dia 2 de julho de 2011.
Houve um desentendimento entre o cunhado do menino, que dirigia o carro onde ele estava, e o comerciante Odair José Miozinho da Silveira, que estava em outro veículo. Silveira saiu do carro e disparou. O tiro perfurou o pulmão do garoto e a bala se alojou na coluna, na altura do pescoço. Maurício ficou tetraplégico.
Na última sexta-feira (17) ele morreu, ainda por complicações relacionadas ao tiro que levou, após ficar internado na UTI do Hospital de Clínicas durante nove dias. Por 11 anos ele sofreu com dores, mas a família diz que em momento algum deixou de sorrir.
— Era difícil ver ele de cara amarrada — recorda a mãe, Clair Maria da Silva Maciel, de 50 anos.
Desde o ocorrido, a dona de casa dedicou-se a cuidar do filho, em tempo integral, o que, segundo ela, a impediu de ter um emprego fixo. O marido trabalha como autônomo, como afiador de facas. Contando Maurício, o casal tem seis filhos.
Maurício era fã do Grêmio e queria ser goleiro. Em 2014, chegou a receber na sua casa a visita dos ex-goleiros tricolores Marcelo Grohe, Danrlei, Tiago Machowski, Follmann e Busatto. O ex-capitão gremista Maicon ajudou a família no período com cestas básicas.
Segundo Clair, a dor da perda é imensurável. Ela ainda relata indignação por saber que o autor do disparo está em liberdade.
— Enquanto Maurício estava conosco, paramos a nossa vida por causa dele. Não é justo. A gente enterrou o nosso filho no sábado e ele (o atirador) está solto. A gente está com uma dor que não tem o que fazer. A gente está sem rumo. As leis precisam mudar — protesta Clair, ao falar emocionada sobre o caso.
Em 24 de fevereiro de 2015, Odair José Miozinho da Silveira foi condenado pela juíza Tania da Rosa, da 1ª Vara do Júri de Porto Alegre, a 22 anos e oito meses de prisão. Em 1º de julho de 2015, a 2ª Câmara Criminal reduziu pela metade a pena do criminoso, a 11 anos e três meses. Ele ficou foragido por quase três anos até ser preso.
Conforme consta no histórico dele no sistema prisional, Odair ficou preso de 1º de abril de 2014 a 31 de março de 2020, passando por diversas penitenciárias, até continuar a cumprir a pena em casa, monitorado por tornozeleira eletrônica. Desde 12 de junho de 2020, o atirador está em liberdade condicional. Para que ele cumpra a totalidade da pena faltam ainda um ano e oito meses.
— Eu entendo que as pessoas não cumprem o que tem que cumprir. A redução da pena traz uma sensação de impunidade para as famílias e uma insegurança total — avalia a promotora Lúcia Helena Callegari, que atuou neste processo junto com o promotor Eugênio Paes Amorim.
O Ministério Público tenta, por meio de recurso no Superior Tribunal de Justiça (STJ), aumentar a pena do réu. Ainda não há prazo para julgamento do pedido. Procurado, o advogado de Odair da Silveira, Augusto Vieira Stromdahl, disse que só se manifesta nos autos.