A atmosfera era internacional: cerca de 12 mil pessoas de 50 países circularam nos três pavilhões do Cais Mauá para discutir tecnologia, empreendedorismo e novos negócios. Nesta quarta-feira (4), no primeiro dia do South Summit, Porto Alegre respirou inovação. Ao mesmo tempo, a capital gaúcha precisou lidar, em dia de forte chuva, com uma situação a qual está pouco acostumada: ser uma cidade buscada por multidões de fora.
Nos três pavilhões do cais, estagiários, empreendedores em início de carreira e diretores de startups, grandes empresas e fundos de investimento vivenciaram um longo dia de aprendizado no qual se olhava para apenas uma direção: o futuro.
Os três pavilhões estavam apinhados de frequentadores para discutir a possibilidade de fechar novos negócios e para assistir a palestras de representantes da Ebanx, BTG Pactual, Grupo Panvel, Banrisul, SLC Agrícola, CMPC, Warren e Creditas.
No armazém 5, startups montaram estandes para promover serviços na esperança de atrair investidores. Era o caso da startup Negras Plurais, de Porto Alegre, que, há quatro anos, presta consultoria para empresas promoverem diversidade racial.
— Estamos fazendo um bom networking, as pessoas estão se interessando pelo nosso trabalho. A estrutura do evento é muito boa, pegaram um espaço antigo para falar de inovação. Se o tempo estivesse bom, estaria ainda mais maravilhoso — disse Lidia Santos, diretora da Negras Plurais, ao lado do marido e sócio da empresa, Ivan Guerra.
Na semana em que a cidade ansiava por dias ensolarados para exibir as águas do Guaíba, "São Pedro" não colaborou e trouxe forte chuva. Caminhar no espaço aberto do Cais Mauá, entre os armazéns e as águas, exigiu desviar das poças e se conformar, em algum momento, molhar os pés. A organização distribuiu capas de chuva, na esperança de amenizar o problema.
A chuvarada favoreceu a formação de longas filas para entrada do South Summit e levou os frequentadores a se espremerem em locais fechados, o que dificultou a locomoção e exigiu elevar o tom de voz para conversar.
Visitantes relataram que, no início da manhã, não puderam entrar devido à grande lotação, situação posteriormente resolvida. Um dos banheiros temporários ficou sem água e foi registrada queda de luz no palco principal e em alguns food trucks, justo na hora do almoço. O wi-fi chegou a ficar intermitente.
O investidor uruguaio Nicolás Arrosa, da entidade financiadora Oikocredit, se impressionou com a quantidade de gente atraída pelo South Summit na Capital. Ele afirma que teve dificuldade para comprar comida em razão da alta procura, relato repetido por diversos frequentadores ouvidos por GZH.
— Precisei esperar tanto tempo na fila para almoçar que acabei perdendo o início de uma das palestras. Mas o local é muito agradável, com música e uma bela paisagem — disse o investidor.
Para o russo Antony Minkowski, criador da RemoteCamp e desenvolvedor de negócios da SoMin.ai, empresa de Singapura que é uma das 50 finalistas da competição de startups, a localização do South Summit no Cais Mauá foi acertada.
Ele diz que a grande lotação do evento, tornando os ambientes internos apinhados, é sinal de que há grande interesse público pela programação e pelos encontros. Minkowski também relatou longas filas para acessar food trucks e ainda pontuou dificuldade em identificar quem era empreendedor e investidor para iniciar conversa.
— Os encontros aqui servem para conversa leve, porque os negócios não acontecem em cafés ou jantares, leva-se seis meses. Aqui, é a introdução amigável. Me surpreendeu o quão grande é o evento, é enorme, estou conhecendo muitas pessoas do Brasil, mas não há como saber quem é quem para fazer a aproximação inicial. Certamente não é um evento pequeno — afirmou.
Vice-presidente da Visa do Brasil, Eduardo Abreu, 54 anos, se surpreendeu com a qualidade do evento em Porto Alegre. Com mais de 20 participações em encontros de inovação e tecnologia ao redor do mundo nos últimos anos, diz que o South Summit Brasil teve uma bela estreia. Ele gostou do aplicativo oficial do evento, que permite consultar o mapa do cais, a programação, os palestrantes e entrar em contato por meio do próprio app com qualquer participante e marcar reuniões.
— Esse evento não fica nada a dever a qualquer outro que participei em diferentes países do mundo. Está no mesmo nível. Atraiu gente do Brasil inteiro — garantiu.
Ao mesmo tempo, o executivo da Visa Brasil ressalvou que, nos palcos menores, em alguns momentos era difícil escutar os palestrantes em meio ao som ambiente no interior dos armazéns repletos de gente — isso não ocorre nos palcos maiores.
O vice-presidente da Imed, William Zanella, curtiu que o South Summit trouxe palestras sobre assuntos em alta. Os encontros com novas pessoas - famoso networking - estavam a todo vapor. Um espaço apenas para conversas reservadas - chamado de 1 to 1 - abrigava executivos mediante agendamento.
— A chuva faz parte, temos que lidar, mas esses percalços precisam ser superados por quem lida com inovação. O networking está muito positivo, somos uma empresa de educação, mas falamos com startups de saúde, investidores e fizemos conexões. Esse é o ponto alto do evento — garante.
Em uma conferência sobre o futuro, os mais jovens também aprendem. O estudante de Administração Willian Trindade, de 25 anos, que buscava um local para almoçar após um food truck comunicar que não atendia pela falta de luz, demostrava entusiasmo com o South Summit. O objetivo era assistir a palestras sobre inovação e trazer novas ideias ao banco onde é estagiário.
— Os assuntos têm tudo a ver com meu trabalho. Estou achando o evento muito legal, o único problema é a chuva, que não tem como controlar — elogiou o universitário.
Willian pode ficar tranquilo: "São Pedro" está de bom humor e, para quinta-feira (5), a previsão é de sol entre nuvens.
Colaborou: Marcelo Gonzatto