Um lugar onde o acolhimento deve ser a principal bandeira abriu suas portas em Esteio. No dia 19 de abril, o Centro Permanente de Acolhimento a Refugiados e Imigrantes recebeu o primeiro grupo de acolhidos, formado por 30 imigrantes venezuelanos. Eles vieram em voo proveniente de Boa Vista, em Roraima.
O local, que funciona como uma casa de passagem, foi inaugurado em 20 de abril e fica na Rua Santana, 844, no bairro Olímpica, em um hotel hoje desativado. A ideia é que os acolhidos fiquem em torno de seis meses no centro, tempo que pode variar a cada caso.
Além de produtos para preparo das refeições, os hóspedes do local recebem itens necessários ao dia a dia. A estrutura conta com quartos, banheiros, cozinha coletiva, ambiente para convivência, área para crianças e setor administrativo.
— Tudo que é necessário para que eles possam viver ao longo desse período eles recebem lá, todos os insumos. E, ao longo desse período também, eles são inseridos nos próprios serviços sociais da prefeitura — garante o prefeito da cidade, Leonardo Pascoal.
Independência
Para o aposentado Luis Alberto Rosales, 52 anos, a vinda para o Brasil já completa quatro anos. Ele morava no Estado de Bolívar, no sul da Venezuela, e decidiu sair de seu país por conta das condições econômicas e políticas existentes na região, indo em busca de melhor qualidade de vida. Antes de chegar em Esteio, esteve em Roraima. Agora, ele está hospedado no centro junto à esposa e ao filho.
— A expectativa de vida, primeiramente, é o trabalho. Procurar um trabalho, alcançar a independência e, posteriormente, ter uma casa — conta ele, em espanhol, sobre os planos futuros.
Orientação constante
O trabalho diário no centro fica por conta de uma parceria entre a Secretaria de Cidadania e Direitos Humanos de Esteio e a ONG Família Atos 29, que tem sede em Porto Alegre.
A equipe é formada por um coordenador e uma assistente social da ONG. E tem, ainda, quatro educadores sociais que auxiliam os acolhidos com orientações que vão desde questões culinárias a ajuda para imprimir currículo, exemplifica Renan Ferreira, um dos diretores da Família Atos 29. Esses educadores trabalham em revezamento, o que permite um suporte de 24 horas por dia ao longo da semana.
A ONG atua em Esteio desde 2021, com uma república voltada à população em situação de rua. Em cidades próximas, a entidade também mantém outros espaços de acolhimento a pessoas em situação de vulnerabilidade social.
— Era o momento de entrarmos nesse campo (de ajuda a refugiados e imigrantes) também, trazendo a metodologia de amor ao outro, da empatia, olhando e pensando também que talvez um dia algum ancestral nosso já foi imigrante, já foi uma pessoa que chegou no Brasil — destaca Ferreira.
Ajuda federal
Para receber o primeiro grupo, o município conseguiu um aporte de R$ 240 mil do governo federal. O recurso ajuda com o custeio do serviço por um período de seis meses. Depois desse prazo, a proposta é conseguir um novo financiamento, abarcar os custos ou encontrar parceiros, assegura o prefeito da cidade.
Hoje, de acordo com a prefeitura, são pelo menos 992 refugiados e imigrantes vinculados a Esteio — em sua maioria, vindos da Venezuela.
Um apoiador do trabalho realizado é o Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), que auxilia com doações de equipamentos e materiais. A entidade, assim como a Organização Internacional para as Migrações (OIM), é uma das que atuam no trabalho de organização, preparação e transporte de imigrantes e refugiados que chegam ao Brasil, em parceria com o governo federal.
Imigrante ou refugiado?
Segundo o Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão sobre Migrações (Nepemigra) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul:
- Um imigrante no Brasil é uma pessoa vinda de outro país ou sem pátria que se estabelece temporariamente ou definitivamente em território brasileiro em busca de uma melhor qualidade de vida.
- Já o refugiado também vem de outro país, mas por conta de perseguição por motivos como raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas.
Produção: Isadora Garcia