No deslocamento para o trabalho, enquanto procura alguma peça de roupa na internet ou procrastina nas redes sociais, grandes empresas e plataformas digitais lucram em cima dos seus dados. Mas, para o professor de Ciência da Computação na Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS) Fabiano Hessel, essa relação deve mudar. Há uma tendência de que os geradores dos dados — ou seja, nós mesmos — possam controlar e até monetizar o repasse de informações.
— Na nova era da economia digital, o usuário, físico ou jurídico, é que passa a negociar com quem quer usar seus dados — frisa.
Um dos mais de 250 palestrantes do South Summit, que ocorre entre quarta-feira (4) e sexta-feira (6) no Cais Mauá, Hessel relata que essa mudança já começou a acontecer nos Estados Unidos e em países da Europa. A interface com o usuário é simples, relata o professor, na qual as empresas podem apontar quais os tipos de dados em que estão interessadas e os usuários podem escolher para quem querem vendê-los, por meio de um contrato inteligente.
Nele, se estabelece o fluxo de envio de dados, ou seja, de quanto em quanto tempo vai repassar a informação, e quanto vale um pacote de dados. O professor usa um exemplo de localização para exemplificar, tipo de informação que hoje os usuários fornecem gratuitamente para aplicativos de transporte e de mapas viários:
— Imagine que negocio o envio da minha localização a cada minuto, e em troca eu recebo 20 centavos, afinal o volume de dados enviados é grande e este não é um dado muito raro. Concordo em fornecer essas informações (via rastreio no celular) por 30 dias. A partir do momento que o primeiro dado é enviado do teu celular e é recebido pela empresa que adquiriu este dado, o valor devido é calculado e a empresa faz o crédito na minha conta
Para isso ocorrer no Brasil, segundo Hessel, é necessária uma mudança de cultura. As pessoas, hoje, aceitam os termos dos aplicativos e sites sem sequer lê-los, bem como acatam os cookies de qualquer página (pequenos arquivos criados por sites visitados).
— Esse novo modelo se torna possível a partir do momento que o usuário começa a entender que o acesso aos seus dados tem um valor. As pessoas tem que perceber que os dados dela têm um valor muito alto — diz ele.
No South Summit Brasil, Hessel participará de um painel na quarta-feira (4) sobre inovação além da ciência e tecnologia e a transformação de conhecimento em ecossistemas.